domingo, 15 de fevereiro de 2009

Medo


Nuno Serras Pereira

14. 02. 2009

1. Depravação sexual nas escolas, homicídio/aborto precoce e também cirúrgico, contracepção, procriação substituída por fecundação técnica extra-corpórea, congelamento de pessoas humanas no início das suas existências, experimentação letal nas mesmas, clonagem, pornografia entregue em mão às crianças através do computador Magalhães com acesso à Internet, emparelhamentos de facto sodomitas, reivindicação do “casamento” para os mesmos, promoção do homicídio/eutanásia e suicídio assistido.

Todas estas coisas filhas do Maligno nos assustam, ainda bem, e nos paralisam, ainda mal, pois verificamos que quem neste mundo serve o seu Príncipe, Satanás, é dotado de grande poder nas mais diversas esferas do mesmo – política, magistratura, comunicação social, grande capital, etc. A paralisia gerada pelo medo advém, por um lado, do desânimo, da desistência, do desespero - não adianta lutar, mesmo que eu me esforce e dê a cara os outros ficam quietos, não vale a pena fazer nada; por outro, do temor de represálias – perder prestígio, ser ridicularizado, achincalhado, posto de lado, não progredir ou mesmo regredir na carreira, eclesiástica ou secular, ser perseguido, investigado; e, ainda, de um calculismo casuístico, escrupulosamente negocial, proporcionalista e consequencialista medindo até à exaustão a relação custos benefícios numa lógica puramente mundana.

Ora importa saber que foi sempre próprio do Diabo usar o estratagema de infundir medo para alcançar os seus objectivos maléficos, pintando-nos na imaginação futuros aterradores, criando apreensões medonhas, cada vez que quer impedir alguma obra de justiça e amor que contrarie os seus intentos. Mas se lhe fazemos frente, se batemos o pé e, levantando a cara, avançamos, confiados em Deus, ele logo se retira ganindo como cão assustado. O seu poderio é como um balão cheio de ar que mal sofre um ataque que o fere logo se esvazia e velozmente desaparece.

2. Conhecendo-o como mais ninguém, Jesus Cristo repetiu insistentemente: “Não tenham medo”. É a frase mais frequente nos Evangelhos. Foi vivendo-a, como todos saberemos, que o Servo de Deus João Paulo II derrubou aquele império do materialismo ateu. Não tenham medo dos que matam o corpo, temei antes Aquele que pode condenar ou salvar, advertiu também o Senhor, como quem diz: temor só de Deus, isto é, medo de O ofender, de perder a Sua graça, da condenação eterna. Excluindo pois este receio, o que Jesus Cristo nos ensina não é um conselho, que possamos ou não seguir, mas sim um Mandamento a praticar. Como com todos os outros mandamentos, Jesus ao dá-lo comunica-nos juntamente a força ou a graça para o pôr em prática. Não se trata portanto de uma opção mas verdadeiramente de uma obrigação de que deveremos dar contas aquando do dia do Juízo.

Porém Jesus Cristo, que é a mesma Verdade, e, sendo Deus não Se pode enganar nem nos pode enganar, experimentou, na agonia que padeceu no jardim das oliveiras, pavor. Um medo tão grande e violento que O fez cair por terra e transpirar grossas gotas de sangue. Não é possível pensar que aquilo que nos foi dado como Mandamento, não fosse por Ele vivido e praticado, pois toda a Sua doutrina é como que uma emanação ou verbalização da Sua identidade. Como entender então este Mistério, no contexto do que estamos meditando?

O Senhor nunca disse: “estão proibidos de sentir ou experimentar medo”. Disse, isso sim, não se deixem vencer ou subjugar pelo medo. É isso o que significa a expressão: “Não tenham medo”, não se entreguem ao medo, combatam e triunfem do medo.

3. Martin Luther King foi, naquele aspecto da sua vida que todos conhecemos e admiramos, a saber, o combate contra o segregacionismo, um exemplo desse medo vencido.

Lembra-me de há uns anos ter visto um documentário, sobre a sua vida, na televisão que informava como ele padecia de verdadeiros ataques de pânico, não poucas vezes antes das intervenções importantes que tinha de fazer. Não se deixava no entanto vencer e por isso nele e depois nos outros a Justiça venceu.

Faça cada um, aquilo que deve fazer, pois quem faz o que deve, deve o que faz, e verá que os poderes aparentemente invencíveis se desmoronarão como um castelo de cartas.