"A ignorância do verdadeiro Deus, é para um Estado a pior das calamidades" - Platão
Pe. Duarte Sousa Lara
11.02.2009
Neste ano dedicado a S. Paulo, estas linhas surgem como uma forma de manifestar a minha gratidão ao Infovitae – de uma maneira especial ao padre Nuno Serras Pereira – por estes dez anos ao serviço da cultura da vida. É próprio dos corações magnânimos empenhar a própria existência no serviço de causas verdadeiramente nobres, superando com constância os vários obstáculos que vão surgindo. A promoção da cultura da vida é uma de tais causas, que se apresenta como um projecto de grande porte capaz apenas de ser realizado pelos esforços continuados e conjuntos de várias gerações. Nesta grande empresa que é a instauração de uma cultura da vida, não poucas vezes, somos tentados a desistir, seja porque constatamos que os nossos contributos produzem modestos resultados a curto prazo, seja porque, com frequência, esbarramos com a dureza de coração de tantos nossos irmãos. Ocorre não desanimar, mesmo que todo o nosso esforço possa parecer aparentemente estéril. Hoje, Jesus conta connosco para “plantar sobreiros” dos quais as futuras gerações gozarão a sombra e tirarão a cortiça...
Muitas vezes, dou por mim a indagar quais são a raízes da anti-cultura da morte em que vivemos, porque me parece que para estabelecer a cultura da vida a solução passará mais por atacar directamente tais raízes do que em combater apenas as suas múltiplas e sempre novas manifestações. Tal como numa doença interessa-nos mais matar o vírus do que apenas suprimir os maus sintomas que esse provoca. Mas qual é a raiz da actual anti-cultura da morte? Obviamente que não é simples responder a esta questão, mas atrevo-me, com a ajuda de S. Paulo, a dizer que é a rejeição do Criador e a usurpação soberba do seu lugar.
São particularmente actuais e luminosas as reflexões que faz S. Paulo no primeiro capítulo da Epístola aos Romanos (1,18-32). Ele começa por defender que o homem com a luz da razão natural pode conhecer o Criador a partir da criação, e que, recusando-se a fazê-lo comete uma impiedade culpável não dando ao Criador o reconhecimento, a honra e a glória que lhe é devida. Uma tal atitude depravada da parte do homem em relação ao Criador cega a sua mente à verdade e conduz o homem à injustiça e a todo o tipo de vícios e abominações. Merece ser, aqui, bem sublinhado o forte nexo causal que tem para S. Paulo a impiedade em relação ao Criador e a injustiça entre os homens, bem como, os outros vícios a que essa mesma impiedade conduz. Para S. Paulo a raiz da perversão moral está no acto ímpio da rejeição do Criador por parte da sua criatura racional.
É, pois, agora mais claro que, na raiz da anti-cultura da morte encontra-se um problema religioso. O homem mata, rouba, mente, procura a luxúria porque se recusa a reconhecer o Criador, e, de coração endurecido, cego à verdade, usurpa obstinadamente o seu lugar fazendo-se senhor último da criação. Poderíamos agora também perguntar-nos: Como combate S. Paulo a anti-cultura da morte? Sobretudo anunciando Jesus Cristo. A resposta de S. Paulo à anti-cultura da morte é uma resposta religiosa: levar a fé em Jesus. Onde floresce a fé em Jesus floresce a cultura da vida, sobretudo floresce a cultura da vida eterna...
Concluindo, creio que dentro das várias iniciativas válidas e complementares que devem ser postas em prática para promover a instauração da cultura da vida, a prioridade máxima deve ser dada à Nova Evangelização. Só a conversão sincera dos corações a Jesus, pode vencer de maneira definitiva e estável as raízes da anti-cultura da morte. Só em Jesus, morto e ressuscitado, existe para a toda a humanidade vitória sobre o mal em todas as suas formas, em primeiro lugar sobre o pecado (mal moral) que é a raiz de todos os outros males, depois sobre as consequências do pecado (a morte e os outros males físicos) e também sobre aquele que nos incita ao pecado, Satanás, o qual é «homicida desde o princípio» (Jo 8,44). Só a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo é o único antídoto capaz de vencer definitivamente o vírus da anti-cultura da morte presente no coração do homem; e a esse divino remédio, que além do mais é gratuito, acede-se pela fé em Jesus.