A classe política em geral tem dado uma triste imagem de si própria nesta crise. Pondo sempre a táctica eleitoral à frente do interesse nacional, repetidamente recusa a evidência mais patente, fomenta as ilusões mais tontas, omite as reformas mais candentes.
Agora, apesar de instada por múltiplas individualidades, mostra-se absolutamente incapaz de acordar uma estratégia de salvação nacional, insistindo na chicana e agressividade que, na grave emergência, só podem ser infantis.
É essencial compreender que isto é resultado da atitude popular durante décadas. Há muito tempo que jornais, conversas de café, opiniões de blogs têm instilado uma atitude cínica, desconfiada, boçal e quezilenta na nossa vida pública. Como nos tempos de Rafael Bordalo Pinheiro e d' As Farpas de Ramalho, esperamos o pior dos nossos dirigentes. Daí só pode nascer o pior.
Ansiamos por políticos sérios, competentes, dedicados. Mas fazemos tudo para os espantar. Quais são as pessoas sérias, competentes e dedicadas que se prestam ao enxovalho permanente da vida partidária e parlamentar?
O caso de Manuela Ferreira Leite e a estranheza com que foi acolhida e expulsa é disso prova evidente. Um clima destes só atrai equilibristas, manipuladores e ilusionistas, de que José Sócrates é o protótipo. Só assim se explica que ele, tendo acumulado mais fiascos, erros e desgraças do que qualquer primeiro-ministro da história moderna, ainda se apresente ao eleitorado com expectativas de ganhar.
O seu jogo, onde aliás é mestre, nada tem a ver com o interesse nacional.