Os partidos dos sacerdotes, dos
escribas, dos saduceus e o dos fariseus, com honrosas excepções, decidiram, com
o apoio de grande parte do povo, a morte de um Inocente. Mas ela não podia ser
executada sem a promulgação de Pôncio Pilatos. Este, reconhecendo embora a inocência
de Jesus Cristo, depois de lavar as mãos em gesto de autojustificação, promulga
a sentença de morte. O Inocente é torturado com extremos de crueldade, padece a
via-sacra, sofre a crucifixão, é morto, depois lanceado no coração e finalmente
sepultado, antes das 18h de sexta-feira. Tudo isto nos é relato nos Evangelhos.
Mas, como sabemos, e o afirma o Evangelho segundo S. João, eles não nos relatam
tudo quanto aconteceu, pois para isso seria necessário um número infindável de
livros.
Assim, e à luz, do que conhecemos
dos nossos dias e da sua mentalidade reinante, podemos, com plausibilidade,
supor que no sábado Pilatos se tenha resolvido, quiçá por influência de sua
mulher, a condecorar a Virgem Santa Maria, S. Pedro e os demais Apóstolos. Isto,
como reafirmo, tem ares de verossimilhança, tendo em conta aquilo a que a hoje
assistimos, e também que a natureza humana, apesar do decorrer da história, não
sofre mutabilidade. O que já se me afigura inconcebível, apesar, como é do
conhecimento público, da minha fantasia febril e alucinada, é que qualquer uma
destas Santas personagens aceitasse a insígnia. Pelo contrário, imagino a
possibilidade de serem tomados de uma santa ira, como a de Jesus quando
expulsou os vendilhões do Templo ou quando polemizava com os judeus que não
acreditavam n’ Ele. Sim!, Jesus era mesmo muito polémico. Só quem não leu os
Evangelhos de fio-a-pavio, em particular o segundo S. João, é que pode ignorar
esta verdade tão patente.
Mas afinal que é isso a que
assistimos, que conhecemos nos tempos que correm? A interrogação é meramente
retórica, uma vez que está à vista de todos os portugueses: os partidos dos
socialistas, dos comunistas, dos bloquistas e não poucos sociais-democratas e
centristas conjurados com grande parte do povo decidiram que se podia executar à
morte qualquer pessoa inocente até às 10 semanas de idade, por dá cá aquela
palha. Mas esta matança sistemática e organizada não podia ser levada a cabo
sem o aval do presidente da república. Aníbal Cavaco Silva, sabendo embora da total
inocência e inermidade das diminutas crianças nascituras, promulgou a
mortandade geral e arbitrária daqueles de quem Jesus Cristo disse: “Sempre que fizestes isto a um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim
mesmo o fizestes.”. Jesus é pois de
novo, e com extremos de impiedade maligna, condenado à tortura imisercordiosa e
à morte injusta, sanguinária e atroz.
Toda a pessoa que é gerada o é não
principalmente pelo intercâmbio conjugal de seus pais mas por um acto de Deus
Criador com o qual os progenitores cooperam. Neste sentido todos somos filhos
de Deus porque Suas criaturas. Mas a Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) não
é só a nossa origem mas também o nosso destino. Isto é, Deus que é Amor quer-nos,
convida-nos, vocaciona-nos e assiste-nos, a todos, para que sejamos ou venhamos
a ser Seus filhos num sentido mais profundo e radical tornando-nos participantes
da Sua Divindade e da Sua glória.
Assim como a sempre Virgem Maria
concebeu e deu à luz o Deus Filho, por virtude do Espírito Santo, que d’ Ela
tomou a nossa humanidade de modo semelhante a Igreja acolhendo no seu seio a
Palavra, o Verbo de Deus (Jesus Cristo) e o Seu Espírito gera novos filhos de
Deus. Que esta Mãe, a Igreja, admita receber uma distinção daquele que tornou
possível, cumpliciando-se, a carnificina de tantos cristos é caso para enorme
perplexidade e grande espanto. A Igreja é hoje representada, pelos sucessores
dos Apóstolos. Em Portugal esses sucessores são o Cardeal Patriarca de Lisboa e
os demais Bispos que compõem a Conferência Episcopal. Os nossos Bispos a
aceitarem que a Rádio Renascença, propriedade dos sucessores dos Apóstolos, que
se apresenta a si mesma como “a emissora católica portuguesa”, seja condecorada
pelo presidente da república estão a agir de um modo contrário ao dos Apóstolos.
De facto, as distinções ou comendas que estes apreciavam e nas quais se
regozijavam eram as flagelações, as lapidações e todo o género de perseguições
e martírios.
Tanta coisa podre, em todos os
estados, neste reino de Portugal…
Nuno Serras Pereira
07. 04. 2012