segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Como S. Francisco de Assis caminhando com a Igreja de Lisboa, lhe expôs em que consiste a perfeita alegria - por Nuno Serras Pereira

Adaptação do Cap. VIII das Florinhas de S. Francisco

Em tempo de inverno demográfico e católico vindo uma vez S. Francisco com o Resto da Igreja de Lisboa, da Sé Catedral para um abortadouro da capital, eram fortemente atormentados pela incredulidade intensíssima. E chamando pelo Resto, que ia um pouco adiante, disse-lhe: 

- Ó Igreja de Lisboa, ainda que os teus membros dessem, por toda a terra, grande exemplo de santidade e boa edificação memoriza todavia e entende diligentemente que não está nisso a perfeita alegria.

E andando um pouco mais, tornou a chamar:

- Ó Igreja de Lisboa, ainda que os teus fiéis dessem vista aos cegos, curassem paralíticos, expulsassem demónios, dessem ouvidos aos surdos, pés aos coxos, fala aos mudos, e, o que mais é, ressuscitasse mortos de quatro dias: entende e memoriza que não está nisso a perfeita alegria.

E caminhando mais adiante, com voz forte, gritou:

- Ó Igreja de Lisboa, se os teus fiéis soubessem todas as línguas e todas as ciências, e conhecessem todas as Escrituras, de maneira que pudessem profetizar e revelar não somente as coisas futuras mas ainda os segredos das consciências e dos corações: escreve que não está nisso a perfeita alegria.

E continuando a andar, de novo chamou com voz forte:

- Ó Igreja de Lisboa, ovelhinha de Deus, ainda mesmo que os teus fiéis falassem com língua de Anjo, e soubessem o curso das estrelas e as virtudes das plantas, e lhes fossem revelados todos os tesouros da terra, e conhecessem as propriedades das aves e dos peixes e de todos os animais e dos homens e das árvores e das pedras e das raízes e das águas: entende e memoriza que não está nisso a perfeita alegria.

E prosseguindo adiante, clamou em alta voz: 

- Ó Igreja de Lisboa, quando os fiéis soubessem evangelizar tão bem que todos os infiéis convertessem à Fé de Cristo: entende e memoriza que não está nisso a perfeita alegria.

E, continuando a falar assim pelo espaço de três quilómetros, perguntou o Vigilante da Igreja de Lisboa muito enleado:

Pai S. Francisco, da parte de Deus te peço que me digas onde está a perfeita alegria.

E S. Francisco respondeu-lhe assim: 

- Se quando nós chegarmos ao abortadouro dos arcos, repassados de horror, tremendo de pavor, cobertos de ansiedades e aflitos com sede de vida e de almas, rezarmos à porta, e vierem de lá os empregados, todos irados, e nos disserem: - “Quem sois vós?”, e nós lhes respondermos: - “Somos irmãos vossos e das crianças nascituras”; e eles replicarem: - “Não dizeis a verdade: sois mas é genocidas de mulheres que andais enganando o mundo e roubando os subsídios das que abortam; ponde-vos daqui para fora!”; e nos virarem as costas, fazendo-nos passar por vigaristas criminosos, padecendo vergonhas e opróbrios; e nós então suportarmos tanta injúria, tanta crueldade, tantos vitupérios, com paciência, sem perturbação nem murmurar, humilde e caritativamente pensando, que em verdade, Deus permitira que eles assim falassem contra nós: ó Igreja de Lisboa, entende e memoriza que nisto está a perfeita alegria. E, se, continuando nós a orar e a dissuadir as mães grávidas de abortar, oferecendo-lhes alternativas, eles saíssem indignados, e, como a importunos criminosos, nos espancassem ignominiosamente, dizendo: - “Saiam daqui, vilíssimos embusteiros espoliadores; vão para o Tarrafal, que aqui não vos toleraremos!”; se isto sofrermos pacientemente e de ânimo leve e benevolente: ó Igreja de Lisboa, entende e memoriza que nisto está a perfeita alegria. Mas se nós, apertados pelo zelo da salvação das almas e pelo da conversão dos pecadores e pelo amor às crianças nascituras, insistíssemos e implorássemos, pelo amor de Deus e pelo amor de toda e cada pessoa humana, desde a concepção até ao seu fim natural, com muitas lágrimas e com muitos suspiros e com toda a mansidão e com a máxima suavidade, que nos deixassem estar; e eles, mais chocados, dissessem – “Estes patifes malvados: não deixam de nos importunar! Esperai lá, que já vos dou o pago!”, e chamassem a polícia especial de intervenção e os comandos e os paraquedistas e mais a comunicação social, e nos arrojassem por terra, nos arrastassem pela calçada, nos sovassem desapiedadamente, e nos sujeitassem a todo o género de sevícias, e nos lançassem aos calabouços, enxovias e ergástulos, e nos colocassem no pelourinho das televisões, e chamassem políticos e comentadores que nos metralhassem impropérios, e bombardeassem falsos testemunhos, e nos ridicularizassem, e nos tratassem como lixo imundo, e escória da humanidade, e cloacas do universo; se tudo isto levássemos com paciência e satisfação (Cristo na Sua Paixão satisfez pelos nossos pecados), meditando nos trabalhos de Cristo bendito: e que por Seu amor e para a conversão dos pecadores, por quem Ele deu a vida, devíamos suportar estes tratos e estes trabalhos: ó Igreja de Lisboa, entende e memoriza que está nisso a perfeita alegria. E agora ouve a conclusão:

- Sobre todas as graças e dons do Espírito Santo que aos Seus amigos Cristo concede, está o de se vencer cada um a si mesmo, e o de, voluntariamente e por Seu amor e por amor daqueles que Ele amou sofrer penas, injúrias, desprezos e opróbrios; e dos dons de Deus nos não podermos gloriar, porque nossos não são mas Seus. Na cruz, porém, e na tribulação nos podemos gloriar, que isto, porque Deus no-lo concedeu, é nosso, e assim diz o Apóstolo: “Não me quero gloriar, senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Quando, por Sua graça, com Ele permanecemos no Amor, como Ele, em toda e qualquer circunstância encontramos a perfeita alegria que ninguém nos poderá arrebatar. Só na cruz se encontra a ressurreição. À honra de Cristo a quem toda a honra e toda a glória seja dada, por todos os séculos dos séculos. Ámen.