Adaptação do Cap. VIII das Florinhas de S. Francisco
Em tempo de inverno demográfico e
católico vindo uma vez S. Francisco com o Resto da Igreja de Lisboa, da Sé Catedral para
um abortadouro da capital, eram fortemente atormentados pela incredulidade
intensíssima. E chamando pelo Resto, que ia um pouco adiante, disse-lhe:
- Ó Igreja de Lisboa, ainda que
os teus membros dessem, por toda a terra, grande exemplo de santidade e boa
edificação memoriza todavia e entende diligentemente que não está nisso a
perfeita alegria.
E andando um pouco mais, tornou a
chamar:
- Ó Igreja de Lisboa, ainda que
os teus fiéis dessem vista aos cegos, curassem paralíticos, expulsassem demónios,
dessem ouvidos aos surdos, pés aos coxos, fala aos mudos, e, o que mais é,
ressuscitasse mortos de quatro dias: entende e memoriza que não está nisso a
perfeita alegria.
E caminhando mais adiante, com
voz forte, gritou:
- Ó Igreja de Lisboa, se os teus
fiéis soubessem todas as línguas e todas as ciências, e conhecessem todas as Escrituras,
de maneira que pudessem profetizar e revelar não somente as coisas futuras mas
ainda os segredos das consciências e dos corações: escreve que não está nisso a
perfeita alegria.
E continuando a andar, de novo
chamou com voz forte:
- Ó Igreja de Lisboa, ovelhinha
de Deus, ainda mesmo que os teus fiéis falassem com língua de Anjo, e soubessem
o curso das estrelas e as virtudes das plantas, e lhes fossem revelados todos
os tesouros da terra, e conhecessem as propriedades das aves e dos peixes e de
todos os animais e dos homens e das árvores e das pedras e das raízes e das águas:
entende e memoriza que não está nisso a perfeita alegria.
E prosseguindo adiante, clamou em
alta voz:
- Ó Igreja de Lisboa, quando os
fiéis soubessem evangelizar tão bem que todos os infiéis convertessem à Fé de
Cristo: entende e memoriza que não está nisso a perfeita alegria.
E, continuando a falar assim pelo
espaço de três quilómetros, perguntou o Vigilante da Igreja de Lisboa muito
enleado:
Pai S. Francisco, da parte de
Deus te peço que me digas onde está a perfeita alegria.
E S. Francisco respondeu-lhe
assim:
- Se quando nós chegarmos ao
abortadouro dos arcos, repassados de horror, tremendo de pavor, cobertos de
ansiedades e aflitos com sede de vida e de almas, rezarmos à porta, e vierem de
lá os empregados, todos irados, e nos disserem: - “Quem sois vós?”, e nós lhes
respondermos: - “Somos irmãos vossos e das crianças nascituras”; e eles
replicarem: - “Não dizeis a verdade: sois mas é genocidas de mulheres que
andais enganando o mundo e roubando os subsídios das que abortam; ponde-vos
daqui para fora!”; e nos virarem as costas, fazendo-nos passar por vigaristas
criminosos, padecendo vergonhas e opróbrios; e nós então suportarmos tanta injúria,
tanta crueldade, tantos vitupérios, com paciência, sem perturbação nem
murmurar, humilde e caritativamente pensando, que em verdade, Deus permitira
que eles assim falassem contra nós: ó Igreja de Lisboa, entende e memoriza que
nisto está a perfeita alegria. E, se, continuando nós a orar e a dissuadir as mães
grávidas de abortar, oferecendo-lhes alternativas, eles saíssem indignados, e,
como a importunos criminosos, nos espancassem ignominiosamente, dizendo: - “Saiam
daqui, vilíssimos embusteiros espoliadores; vão para o Tarrafal, que aqui não
vos toleraremos!”; se isto sofrermos pacientemente e de ânimo leve e
benevolente: ó Igreja de Lisboa, entende e memoriza que nisto está a perfeita
alegria. Mas se nós, apertados pelo zelo da salvação das almas e pelo da
conversão dos pecadores e pelo amor às crianças nascituras, insistíssemos e
implorássemos, pelo amor de Deus e pelo amor de toda e cada pessoa humana,
desde a concepção até ao seu fim natural, com muitas lágrimas e com muitos
suspiros e com toda a mansidão e com a máxima suavidade, que nos deixassem
estar; e eles, mais chocados, dissessem – “Estes patifes malvados: não deixam
de nos importunar! Esperai lá, que já vos dou o pago!”, e chamassem a polícia
especial de intervenção e os comandos e os paraquedistas e mais a comunicação
social, e nos arrojassem por terra, nos arrastassem pela calçada, nos sovassem desapiedadamente,
e nos sujeitassem a todo o género de sevícias, e nos lançassem aos calabouços,
enxovias e ergástulos, e nos colocassem no pelourinho das televisões, e
chamassem políticos e comentadores que nos metralhassem impropérios, e bombardeassem
falsos testemunhos, e nos ridicularizassem, e nos tratassem como lixo imundo, e
escória da humanidade, e cloacas do universo; se tudo isto levássemos com paciência
e satisfação (Cristo na Sua Paixão satisfez pelos nossos pecados), meditando
nos trabalhos de Cristo bendito: e que por Seu amor e para a conversão dos
pecadores, por quem Ele deu a vida, devíamos suportar estes tratos e estes trabalhos:
ó Igreja de Lisboa, entende e memoriza que está nisso a perfeita alegria. E
agora ouve a conclusão:
- Sobre todas as graças e dons do
Espírito Santo que aos Seus amigos Cristo concede, está o de se vencer cada um
a si mesmo, e o de, voluntariamente e por Seu amor e por amor daqueles que Ele
amou sofrer penas, injúrias, desprezos e opróbrios; e dos dons de Deus nos não
podermos gloriar, porque nossos não são mas Seus. Na cruz, porém, e na
tribulação nos podemos gloriar, que isto, porque Deus no-lo concedeu, é nosso,
e assim diz o Apóstolo: “Não me quero gloriar, senão na cruz de Nosso Senhor
Jesus Cristo”. Quando, por Sua graça, com Ele permanecemos no Amor, como Ele,
em toda e qualquer circunstância encontramos a perfeita alegria que ninguém nos
poderá arrebatar. Só na cruz se encontra a ressurreição. À honra de Cristo a
quem toda a honra e toda a glória seja dada, por todos os séculos dos séculos. Ámen.