In VER
A economia da saúde está cada vez mais dependente da saúde da economia.
Daí a necessidade de uma séria ponderação do custo-benefício e da
equidade da despesa. Nada de incomum, mas com a enorme diferença de aqui
estar em jogo o mais absoluto valor: o da vida.
Vem isto a
propósito do parecer do Conselho de Ética para as Ciências da Vida sobre
a utilização de medicamentos oncológicos, contra a sida e artrite
reumatóide, responsáveis por parte significativa do gasto com fármacos.
A ideia do parecer – e das declarações do seu presidente – é a de que deve haver “racionamento ético” (foi o termo) no seu uso quando se trata de prolongar a vida dos doentes. Propõe-se que em “diálogo e com toda a transparência” (sic!) com os doentes se “negoceie” a medida terminal da vida: “viver mais 1 mês custa X, 3 meses custa Y. O que acha, meu caro doente?”
O espartilho orçamental não justifica tudo. E muito menos visões redutoras do valor da vida.
Imersa
na primazia da quantidade, a pessoa humana é reduzida à condição
indigna de instrumento ou meio. Deixa de ser vista como princípio,
sujeito e fim de toda e qualquer acção.
A ética de cuidar não se
esgota na ética de curar. Se esta forma de “eutanásia financeira” faz
doutrina, que futuro para os cuidados paliativos e continuados?
Este
é o país onde, na lei, se desvaloriza a vida antes do nascimento. Agora
quer-se desvalorizá-la antes da morte. Com uma desumana equação de
euros versus um pedaço de vida.
Este é o país onde há dinheiro
para o aborto voluntário e respectiva licença da Seguança Social. Mas,
ao mesmo tempo, se quer “tabelar”, por razões financeiras, o tempo final
da vida. Qualquer “troika” não faria melhor…
Artigo originalmente publicado no Jornal de Negócios. Republicado com permissão do autor.