domingo, 12 de maio de 2013

O Papa Francisco é o Cardeal J. Bergolio? - por Nuno Serras Pereira

12. 05. 2012

Para muitos parecerá abstrusa, se não mesmo absurda a interrogação que titula este pequeno texto. Pois se foi o Cardeal Bergoglio que foi eleito e aceitou ser Papa é evidente que são a mesma pessoa, exclamarão. Que sejam o mesmo e único ser humano concedo-o facilmente, mas que o Papa Francisco seja o Cardeal Bergoglio nego-o categoricamente. De facto, ao aceitar o encargo que o colégio eleitor cardinalício, assistido pelo Espírito Santo (n. b. – a Doutrina da Igreja não ensina que seja o Espírito Santo a escolher os Bispos de Roma; mas sim que Ele concede a Sua assistência aos Cardeais eleitores; os quais poderão estar abertos ou fechados à Sua inspiração), lhe confiou, deixou, de ser Cardeal e passou a ser o Santo Padre. Daqui que o ensino, o Magistério, o governo, as entrevistas, etc., do Cardeal Bergoglio não se podem confundir com as do Papa Francisco I. É certo que todo o seu passado, principalmente como Bispo, pode ajudar a compreender o seu ensino e proceder, mas não é menos verdade que pode também ser uma dificuldade ou um estorvo para isso mesmo. Quem possua um conhecimento, ainda que superficial da história da Igreja e de teologia, sabe isto muito bem. Para não multiplicar os exemplos, recuando na história, basta lembrar que o Cardeal Ratzinger se manifestou contra a entrada da Turquia na União Europeia e que o Papa Bento XVI se pronunciou a seu favor; em cartas tornadas públicas, por consentimento dos próprios, um “líder” da Igreja Ortodoxa, amigo do Cardeal Ratzinger, escreveu ao Papa Bento XVI estranhando algumas das suas posições, que pareciam contraditórias com o que ele advogava enquanto teólogo e Cardeal; Bento XVI, na sua réplica, explicou que como Papa a sua vocação e missão tinha exigências e responsabilidades diferentes das de teólogo e Cardeal.


Jorge Bergoglio, como Cardeal e para alguns ainda mais como jesuíta (smile), não tem o carisma da infabilidade, muito menos numa mera entrevista; nem mesmo o Santo Padre o tem nessas circunstâncias. Ora na minha opinião, falível como é óbvio, o texto a que ontemfiz referência de Sandro Magister, tentando explicar a atitude actual do Papa Francisco, de se abster de distribuir a Sagrada Comunhão, com uma prática e entrevista sua, dada enquanto Cardeal, poderá gerar ruinosos equívocos; este teólogo vaticanista é lido no mundo inteiro, e seguido por eminentes teólogos, Bispos e Cardeais. Mais, estou em que a prática do Cardeal Bergoglio não era correcta e que a explicação que adianta na entrevista, que não é uma acto do seu Magistério Episcopal, padece de confusão ou de insuficiente compreensão doutrinal. Mas se o erro e a falha de entendimento são meus, renovo o pedido que ontem fiz: que me admoestem e corrijam. Não há nisto nenhuma espécie de ironia. Como não o há quando afirmo que submeto tudo quanto até hoje escrevi à autoridade da Santa Igreja e que estou disposto a que tudo seja reduzido a cinzas e lançado na imundície. Isto são declarações formais, sem sombra de astúcia ou simulação. Aliás, de há muito que escrevi, e tenho-o dito repetidamente, no dia em que alguém que seja dotado da autoridade para o fazer, me mandar que não escreva mais, fá-lo-ei imediatamente; poderei depois recorrer a instâncias superiores para verificar se a decisão é ou não confirmada; mas obedecerei prontamente, assim Deus me conceda a Sua Graça.


Variadíssimos leitores tiveram a amabilidade de me escrever no seguimento do texto que ontem enviei, uns agradecendo, outros louvando, outros ainda injuriando-me. A todos estou grato, principalmente aos que me acoimaram de soberba desmedida, gerador de hereges, etc., mais lhes fico reconhecido se rezarem por mim. Porém, apesar das arguições me serem proveitosas, parece-me que talvez não fosse pior que me enviassem textos argumentativos, mostrando-me os erros em que possa ter incorrido e explicando-me por que não tenho razão.


Acresce que alguns estão persuadidos de que a única coisa que me move é a defesa da vida. Estão enganados. A defesa da Fé, a Salvação das almas e da Santidade Eminentíssima da Eucaristia, raiz, centro, e cume da Igreja e de toda vida cristã são, julgava que era totalmente claro, o móbil essencial do que ontem redigi. Embora não ignore, como podia fazê-lo?, a defesa da vida que de resto, como o demonstrou, recentemente, com uma clareza e inteligência raras o Arcebispo G. Crepaldi, está intimamente vinculada com essas realidades.


Há, nos dias que correm, uma indiferença arrepiante para com as profanações e os sacrilégios eucarísticos. Chego a interrogar-me se muita gente, inclusive alguns prelados, acreditam mesmo (ou no mínimo se têm uma consciência suficiente) na Presença Real, na Majestade infinita de Deus, na gravidade do pecado mortal.


Pode um Papa ser corrigido? Desde que S. Pedro, o primeiro e o maior entre todos, esse sim directamente escolhido por Cristo, o foi, primeiro por um galo e depois por S. Paulo, não se vê razão para que outro não o possa também ser. Tem acontecido ao longo da história da Igreja.