12. 05. 2012
Para muitos parecerá abstrusa, se
não mesmo absurda a interrogação que titula este pequeno texto. Pois se foi o
Cardeal Bergoglio que foi eleito e aceitou ser Papa é evidente que são a mesma
pessoa, exclamarão. Que sejam o mesmo e único ser humano concedo-o facilmente,
mas que o Papa Francisco seja o Cardeal Bergoglio nego-o categoricamente. De
facto, ao aceitar o encargo que o colégio eleitor cardinalício, assistido pelo
Espírito Santo (n. b. – a Doutrina
da Igreja não ensina que seja o Espírito Santo a escolher os Bispos de Roma;
mas sim que Ele concede a Sua assistência aos Cardeais eleitores; os quais
poderão estar abertos ou fechados à Sua inspiração), lhe confiou,
deixou, de ser Cardeal e passou a ser o Santo Padre. Daqui que o ensino, o
Magistério, o governo, as entrevistas, etc., do Cardeal Bergoglio não se podem
confundir com as do Papa Francisco I. É certo que todo o seu passado,
principalmente como Bispo, pode ajudar a compreender o seu ensino e proceder,
mas não é menos verdade que poderá também ser uma dificuldade ou um estorvo para
isso mesmo. Quem possua um conhecimento, ainda que superficial da história da
Igreja e de teologia, sabe isto muito bem. Para não multiplicar os exemplos,
recuando na história, basta lembrar que o Cardeal Ratzinger se manifestou
contra a entrada da Turquia na União Europeia e que o Papa Bento XVI se
pronunciou a seu favor; em cartas tornadas públicas, por consentimento dos
próprios, um “líder” da Igreja Ortodoxa, amigo do Cardeal Ratzinger, escreveu
ao Papa Bento XVI estranhando algumas das suas posições, que pareciam
contraditórias com o que ele advogava enquanto teólogo e Cardeal; Bento XVI, na
sua réplica, explicou que como Papa a sua vocação e missão tinha exigências e
responsabilidades diferentes das de teólogo e Cardeal.
Jorge Bergoglio, como Cardeal e
para alguns ainda mais como jesuíta (smile), não tem o carisma da infabilidade,
muito menos numa mera entrevista; nem mesmo o Santo Padre o tem nessas
circunstâncias. Ora na minha opinião, falível como é óbvio, o texto a que ontemfiz referência de Sandro Magister, tentando explicar a atitude actual do Papa
Francisco, de se abster de distribuir a Sagrada Comunhão, com uma prática e
entrevista sua, dada enquanto Cardeal, poderá gerar ruinosos equívocos; este
teólogo vaticanista é lido no mundo inteiro, e seguido por eminentes teólogos,
Bispos e Cardeais. Mais, estou em que a prática do Cardeal Bergoglio não era
correcta e que a explicação que adianta na entrevista, que não é uma acto do
seu Magistério Episcopal, padece de confusão ou de insuficiente compreensão
doutrinal. Mas se o erro e a falha de entendimento são meus, renovo o pedido
que ontem fiz: que me admoestem e corrijam. Não há nisto nenhuma espécie de
ironia. Como não o há quando afirmo que submeto tudo quanto até hoje escrevi à
autoridade da Santa Igreja e que estou disposto a que tudo seja reduzido a
cinzas e lançado na imundície. Isto são declarações formais, sem sombra de
astúcia ou simulação. Aliás, de há muito que escrevi, e tenho-o dito
repetidamente, no dia em que alguém que seja dotado da autoridade para o fazer,
me mandar que não escreva mais, fá-lo-ei imediatamente; poderei depois recorrer
a instâncias superiores para verificar se a decisão é ou não confirmada; mas
obedecerei prontamente, assim Deus me conceda a Sua Graça.
Variadíssimos leitores tiveram a
amabilidade de me escrever no seguimento do texto que ontem enviei, uns agradecendo,
outros louvando, outros ainda injuriando-me. A todos estou grato,
principalmente aos que me acoimaram de soberba desmedida, gerador de hereges,
etc., mais lhes fico reconhecido se rezarem por mim. Porém, apesar das arguições
me serem proveitosas, parece-me que talvez não fosse pior que me enviassem
textos argumentativos, mostrando-me os erros em que possa ter incorrido e
explicando-me por que não tenho razão.
Acresce que alguns estão
persuadidos de que a única coisa que me move é a defesa da vida. Estão
enganados. A defesa da Fé, a Salvação das almas e da Santidade Eminentíssima da
Eucaristia, raiz, centro, e cume da Igreja e de toda vida cristã são, julgava
que era totalmente claro, o móbil essencial do que ontem redigi. Embora não ignore,
como podia fazê-lo?, a defesa da vida que de resto, como o demonstrou,
recentemente, com uma clareza e inteligência raras o Arcebispo G. Crepaldi,
está intimamente vinculada com essas realidades.
Há, nos dias que correm, uma
indiferença arrepiante para com as profanações e os sacrilégios eucarísticos. Chego
a interrogar-me se muita gente, inclusive alguns prelados, acreditam mesmo (ou
no mínimo se têm uma consciência suficiente) na Presença Real, na Majestade
infinita de Deus, na gravidade do pecado mortal.
Pode um Papa ser corrigido? Desde
que S. Pedro, o primeiro e o maior entre todos, esse sim directamente escolhido
por Cristo, o foi, primeiro por um galo e depois por S. Paulo, não se vê razão
para que outro não o possa também ser. Tem acontecido ao longo da história da
Igreja.