quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Eutanazis


1. Em Itália tem sido manifesta a conspiração encarniçada para matar Eluana Englaro, uma paciente que se encontra em estado vegetativo persistente, em virtude de um acidente padecido há 17 anos.


Contrariamente ao que tem noticiado a nossa comunicação social e opinado os cronistas da nossa praça Eluana não se encontra “ligada à máquina”. Tudo indica que é dotada de consciência embora não consiga comunicar de um modo normal. A sua situação não pode dizer-se definitiva, pois já tem havido casos de reversibilidade. Há muitos anos que não toma sequer um antibiótico, não tem feridas nem escaras. De noite fecha os olhos e dorme, de dia abre-os e permanece desperta, o coração bate como o de qualquer outra pessoa, respira normalmente e tem o ciclo menstrual como qualquer outra mulher. De manhã é-lhe feita higiene, depois é conduzida a um ginásio onde lhe exercitam os membros. Todos os dias vai passear numa cadeirinha ao jardim. À noite é-lhe colocada uma sonda pela qual recebe os alimentos e a hidratação. Assim era a sua vida até ontem numa clínica de freiras católicas. De noite, a hora das trevas, foi arrebatada a uma outra onde se preparam para matá-la à fome e à sede num agonia lenta e cruel. Por detrás desta decisão está a obsessão, um fenómeno que pode ser provocado ou pelo menos aproveitado pelo Maligno, de seu pai que conjurado com sectores necrófilos dos tribunais, da política e da comunicação social conseguiram um “golpe de estado” através de decisões judiciais enviesadas que se substituíram ao legislador, com o objectivo de introduzir por essa via a legalização da eutanásia nesse país.

Entretanto, a Igreja e a sociedade civil tem tido uma mobilização verdadeiramente extraordinária em defesa desta pobre rapariga (para os brasileiros moça) contra quem tantos se assanham com um ódio e uma fereza mascarados de amor e compaixão, como sucedeu na Alemanha nazi, e é habitual nestes casos para iludir e seduzir a opinião pública. Declarações episcopais, presença continuada e constante, desde há muito, na comunicação social da Igreja, movimentações a nível político, magotes de fiéis em oração nas Igrejas e na via pública, etc.

Também nós embora longe podemos ajudar com as nossas orações e sacrifícios rezando pela conversão do pai de Eluana, para que se converta, e por ela para que seja salva de um assassínio bárbaro. Ainda vamos a tempo.

2. Em Portugal os eutanazis também estão conjurando nas suas lojas maçónicas e noutros antros pestilentos no modo mais eficaz de legalizar a eutanásia. Falam agora da necessidade de introduzir o “testamento vital” que, a acreditar nos jornais, Rui Nunes, presidente da associação portuguesa de bioética (?), afirma cavilosamente nada ter a ver com aquela. Provavelmente, dentro em pouco, começarão a possibilitar um caso limite qualquer para exigir, como os nazis, em nome da misericórdia a sua matança por suicídio assistido ou por homicídio eutanásico. Recorrerão as todas técnicas, subliminares e sofisticadas, de modo a incutir no povo um medo tamanho do sofrimento, exagerando e intrujando, de modo a que as pessoas dêem por bom, aquilo que é péssimo.

3. A Igreja, quando escrevo a Igreja não falo da Igreja em si que é Santa e Imaculada mas nos seus membros, a Igreja, dizia, em Portugal continua a ser uma enorme desilusão no que diz respeito à defesa da vida. Há muitos anos que ela sabe, por exemplo, que o cerco eutanásico se está a apertar e, no entanto, é incapaz de educar o seu povo, como aconteceu, e continua, com as questões do aborto, da contracepção e da fecundação artificial extra-corpórea. É claro que faz muito no serviço à vida nos variados sectores caritativos e assistenciais e algo fará seguramente nos bastidores. Mas ainda não percebeu que estes temas não são tabus e que tem de formar a consciência dos fiéis nos vários sectores da sua pastoral; também não entendeu que faz parte integrante e, num certo sentido primordial, da evangelização cultural e que é a mais grave questão social. Existe um pudor tal em abordar habitualmente estas questões, o que não sucede com outras, que se procura evitar falar nelas com uma determinação semelhante à que se tem para não dizer palavrões durante as homilias ou nas entrevistas na comunicação social.

Como resultado deste absurdo temos quinhentas mil pessoas venerando, em honra de Seu Filho, a Imagem de Nossa Senhora quando vem a Lisboa ou no Santuário de Fátima sendo que dessas a grande maioria secunda a experimentação letal em seres humanos na sua fase embrionária, votou favoravelmente a liberalização da matança dos inocentes no seio de suas mães e apoiará o iniquamente chamado “casamento” entre homossexuais, e a eutanásia. E esta malta dorme descansada!

Não haverá Cardeal, nem Bispo, nem Padre, nem fiel leigo a quem isto tire o sono!?

Eu espanto-me e tremo diante da minha tibieza. Mas também me admiro com as mariquices medricas e preguiçosas de tantos casais e jovens, que conheço, instalados confortavelmente numa Fé adormecida, para não dizer cadavérica.

Nuno Serras Pereira

05. 02. 2009