Há 12 anos atrás, meses antes do referendo de 98, tendo sabido da celebração, a este propósito, de uma missa na Basílica da Estrela, lá me dirigi. A multidão era grande, fiquei quase à porta.
O sacerdote era jovem, alto, de barba. Não o conhecia; nunca fui ligado a movimentos organizados dentro da Igreja e, embora tivesse estado presente na luta, como estudante de Medicina, logo desde 1982, estava afastado da estrutura do movimento próvida.
E fiquei fascinado; ali estava um homem que dizia, de braços abertos, com voz forte, o que eu achava que se devia dizer: que o aborto era um crime hediondo, um atentado à dignidade do Homem, um pecado mortal! A ideia que retive foi a de um padre sem medo, um padre realmente comprometido com Cristo, pondo a voz e a Verdade da Igreja ao lado dos mais desprotegidos, não hesitando em reafirmar a condenação do aborto, como acto imoral.
Era a Igreja a gritar ao Mundo.
Marcou-me; realmente; não o digo agora, digo-o desde então, porque o sinto.
Mais tarde fui com ele travando conhecimento pessoal. Quando conhecemos melhor alguém, deparamos com aspectos que nos agradam e com características menos apelativas e vamos formando uma apreciação, eventualmente diversa da inicial. Não minto se disser que o Pe. Nuno nunca deu azo a que a minha impressão primeira se desvanecesse. Deu-nos, sempre, a todos, um exemplo de dedicação a Jesus e aos irmãos mais pequenos; de coragem frente à provação; de recusa e horror ao Mal.
E são estas características que o obrigam a proclamar alto, apesar da incompreensão, dos epítetos, dos rótulos.
São elas que o impelem a ser uma referência na cultura da vida que me impressiona de cada vez que discutimos um assunto, seja ele qual for. Recordo, com muita saudade, as reuniões da Direcção Nacional da Associação dos Médicos Católicos Portugueses de que era Assistente Nacional. Os seus imensos conhecimentos foram essenciais, verdadeiramente essenciais, na nossa actuação.
São, ainda, elas, as responsáveis por este veículo de informação de que celebramos o 10º aniversário. O Infovitæ tem sido uma lição de persistência, de apostolado, de informação e de formação.
Só o Pe. Nuno seria capaz de o fazer porque, para organizar tanta matéria, ao longo de tantos anos, sem desfalecer; para compilar tanta notícia; para escrever tantos artigos; são necessárias horas infindas, sonos perdidos e, até, uma solidão acrescida. Na prática, é preciso ter morrido um bocadinho, muitas vezes, por Amor.
Quando me decidi a escrever um artigo a propósito dos 10 anos do Infovitæ, pensei que me sairia do teclado uma análise a este nosso indispensável " jornal ". Saiu-me uma homenagem ao seu autor. É justo que assim seja.