1. a) Confesso que me faz impressão ouvir católicos e ainda para mais hierarcas advogarem a necessidade de debate sobre absolutos morais ou princípios e valores inegociáveis quando os sectários do “ … comum inimigo do género humano, que sempre se opõe às boas obras para que pereçam … ” (Papa Paulo III), pretendem subverter a Lei Moral Natural e o Direito que dela deriva. É que Jesus Cristo não disse Ide e debatei com todas as gentes mas sim Ide e ensinai todas as gentes a observar tudo o que vos prescrevi (cf. Mt. 28, 19-20). Não quero com isto negar a conveniência e a bondade do diálogo com todos, em determinadas circunstâncias, como um dos métodos de proporcionar a compreensão recíproca e suscitar uma abertura sempre maior à Verdade que sempre nos excede.
b) Desde há muito, seguindo uma estratégia cuidadosamente programada e diligentemente posta em prática, que os ideólogos sodomitas nos têm submetido a uma propaganda avassaladora, umas vezes descarada outras subtil e mesmo subliminar, através de livros, revistas, jornais, telenovelas, séries televisivas, Internet, programas e mesas redondas televisivos e radiofónicos, etc., que têm vindo a predispor os ânimos, em particular as emoções e os sentimentos – que, se viciados, como é o caso, obnubilam o exercício livre da recta razão dificultando gravemente a sua capacidade de apreensão da verdade -, dizia que têm vindo a dispor os ânimos para a aceitação acrítica e benévola dos comportamentos e das “uniões” ou “casamentos” entre sodomitas. Debater e discutir num ambiente assim corrompido e nos lugares em que se promove essa conspurcação, com adversários que não estão de boa-fé e recorrem a argumentos e informações que sabem ser falsas para esconder os verdadeiros objectivos do que pretendem alcançar[2] é dar armas ao inimigo e colocar a cabeça no cepo para que nos acutilem e decapitem (acresce que num debate entre por exemplo um charlatão eloquente e um médico competente mas gago, este perde tendo embora toda a razão). Sou, por isso, de opinião que não se participe, da nossa parte, naqueles circos mediáticos onde não é possível desenvolver um raciocínio, nem passar, com credibilidade, a informação necessária nem dar a formação adequada. Acho também contra producente os debates pelo país fora. Sou de parecer, isso sim, que se organizem, por esse Portugal fora, sessões de formação e de esclarecimento; que os sacerdotes, como aconselhou o Arcebispo de Braga, ensinem nas homilias e em outras circunstâncias convenientes; que se dêem entrevistas com o temo suficiente para se poder expor qualquer coisa de jeito.
Quanto à comunicação social da Igreja é evidentemente impensável que se comporta de modo a por em pé de igualdade a injustiça e a Justiça, o mal e o Bem, a mentira e a Verdade porque fazê-lo, como o fez aquando do referendo do aborto, é tomar partido pela injustiça e pela mentira, no sentido em que o pressuposto que subjaz a tais debates ou tempos de antena, ou espaços de opinião, é o relativismo ético e gnoseológico.
2. A comunicação social tem noticiado que dois partidos políticos o CDS e o PSD estão pensando numa suposta “alternativa” ao “casamento” entre pessoas do mesmo sexo que passaria pela celebração de um “contracto civil” entre pessoas do mesmo sexo. Como se não fosse na prática a mesma coisa só que com um nome diferente. Como ontem à noite um Senhor Bispo, num espaço de informação de um dos canais pareceu dar a entender que isso era aceitável convirá citar algumas partes de um texto oficial do Magistério da Igreja que é muito claro sobre esse assunto: “Se todos os fiéis são obrigados a opor-se ao reconhecimento legal das uniões homossexuais, os políticos católicos são-no de modo especial, na linha da responsabilidade que lhes é própria. … A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. O bem comum exige que as leis reconheçam, favoreçam e protejam a união matrimonial como base da família, célula primária da sociedade. Reconhecer legalmente as uniões homossexuais ou equipará-las ao matrimónio, significaria, não só aprovar um comportamento errado, com a consequência de convertê-lo num modelo para a sociedade actual, mas também ofuscar valores fundamentais que fazem parte do património comum da humanidade. A Igreja não pode abdicar de defender tais valores, para o bem dos homens e de toda a sociedade. … (o) Estado não pode legalizar tais uniões sem faltar ao seu dever de promover e tutelar uma instituição essencial ao bem comum, como é o matrimónio.”[3]
Nuno Serras Pereira
[1] Na linha do livro de Gomorra, de S. Pedro Damião, entendo por este termo qualquer tipo de relação sexual entre pessoas do mesmo sexo.
[2] Estas afirmações podem parecer temerárias, mas é o que se conclui do estudo aturado da documentação produzida pelos próprios. Não se exclui obviamente que possa haver alguns “idiotas úteis” no meio da batalha.
[3] Congregação para a Doutrina da Fé, Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 3 de Junho de 2003, memória de São Carlos Lwanga e companheiros, mártires. (http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20030731_homosexual-unions_po.html )