1. Quando era criança e brincávamos às quadrilhas, isto é, aos bandos, era certo e sabido que as expressões “mãos ao alto!” ou “rendes-te ou não?” eram recorrentes e habituais. Eram frases que tínhamos aprendido nos livros aos quadradinhos, como então se dizia, da Colecção Falcão e antes dela do Cavaleiro Andante, e nos westerns. Perante uma emboscada imprevista ou submetidos a uma força maior só nos restava rendermo-nos levantando as mãos se não queríamos levar uma tareia ou se desejávamos acabar aquele jogo e começar outro. Mas havia sempre os resistentes. Estes, por mais que apanhassem mantinham-se firmes até que o adversário se cansasse e desistisse daquela crueldade infantil ou então os pais ou professores aparecessem distribuindo tabefes e açoites que punham tudo em ordem. Nos dias de hoje ser-lhes-ia dada voz de prisão, de um a cinco anos, acusados de violência infantil…
2. A legalização do aborto e a posterior liberalização até às dez semanas foram violências apontadas à sociedade como um todo e em particular às pessoas de boa vontade., convidando-nos a rendermo-nos, a pormos as mãos ao alto, desistindo da protecção e promoção dos mais pobres, inocentes e indefesos. Muitíssimos se resignaram e outros tantos se cumpliciaram. Porém houve um resto que, fiel à Graça que lhe foi concedida, tem permanecido firmíssimo numa resistência activa. Neste resíduo sobressaem dois grupos pela dedicação persistente e corajosa que exercitam na linha da frente. São eles o “Projecto A Teu Lado” e a “Associação Mãos Erguidas”. Nasceram ambos há cerca de um ano, e na abordagem, diferenciada mas complementar, que fazem às mães grávidas que se dirigem ao matadouro dos Arcos para abortar seus filhos já conseguiram salvar a vida a um punhado de crianças nascituras e impedir o traumatismo, conhecido por sindroma pós traumático, respectivo de suas mães.
3. Não deixa de ser curioso verificar que a Associação Mãos Erguidas, como o próprio nome indica, pôs de facto as mãos ao alto. Fê-lo, no entanto, não para se render aos homens mas sim a Deus, para que Ele dispusesse dos seus membros como Lhe aprouvesse na nobre missão de salvar os mais pequeninos e resgatar almas do laço do demónio, da escravidão do pecado. Talvez por isso Deus quis presenteá-los, no dia exacto do seu primeiro aniversário (29 de Janeiro), com a salvação de uma africana imigrante prestes a entrar para o abortadouro a fim de aniquilar o filho que trazia em si.
O “namorado” trabalha no Norte, ela empregada, há um ano, como doméstica interna, receava perder o trabalho. Persuadiram-na então a falar com a patroa expondo com verdade a sua situação e pedindo-lhe compreensão e apoio. Que não tivesse medo pois se não encontrasse amparo aí encontrá-lo-ia na associação. Desabafou com a dona de casa, foi imediatamente despedida. Deu conhecimento do sucedido aos membros da Mãos Erguidas. Pegaram nela e foram a Fátima. Falou com o namorado, a palavra aborto desapareceu da conversa e surgiu a palavra bebé. Arranjaram-lhe emprego, celebrou-se uma Missa de Acção de Graças e está rodeada do carinho e apoio de um numeroso grupo de novos amigos.
4. Para já, isto é, até ao dia 11 do corrente, não será possível, mas talvez o seja para o 28 de Junho, aniversário da vitória do Não ao aborto no primeiro referendo, e não só possível como conveniente e desejável, a publicação de um livro que narrasse, com testemunhos, em várias partes, as seguintes situações: a) Mães grávidas que abortaram por sua própria iniciativa; contra a vontade do pai e apesar de terem todo o apoio; b) Pais que fizeram tudo para impedir o abortamento de seus filhos e que não o conseguiram; c) Mães grávidas que abortaram devido a pressões, chantagens, seduções, etc.; d) Mães grávidas que resistindo a todas as solicitações, circunstâncias adversas, e todo tipo de pressões se recusaram a abortar os seu filhos e os deram à luz. Fica a sugestão para os movimentos pró vida.
Nuno Serras Pereira
03. 02. 2009