As eleições políticas implicam necessariamente uma escolha moral por parte de quem vota ou de quem se abstém. É sobre alguns aspectos desta escolha que agora me detenho sem considerar a moralidade do político que se apresenta como candidato nem a do líder que decide quem são as pessoas que se apresentam, em nome do seu partido político, à votação dos eleitores.
Já se sabe que em nenhuma circunstância é lícito escolher o mal. Consequentemente nunca é legítimo votar num candidato porque ele advoga o aborto, ou a eutanásia, ou a supressão da liberdade de ensinar e de aprender, enfim porque se propõe repudiar qualquer princípio ou valor inegociável.
Não obstante podem dar-se circunstâncias tais em que a um católico seja lícito votar nas listas desse ou desses partidos não porque mas apesar de apresentarem gente dessa espécie. Aliás, em circunstâncias excepcionais poderá ser inclusive moralmente obrigatório fazê-lo.
Se, por exemplo, o poder estiver nas mãos de políticos perversos cuja governação e legislação se caracterizaram por roubos, matanças e destruições (cf. Jo. 10, 10), quer físicas quer morais, e houver razões fundadas para concluir que o único modo de limitar esses males horrendos será através da votação em um ou mais partidos que, sendo embora deficientes e com alguma perversão, o possam substituir no poder parece claro que o católico ao votar nele/s está, não a procurar o mal mas a escolher o bem possível.
Se o eleitor tem razões fundadas para julgar que o voto num partido limpo será, nessa circunstância, inútil no sentido em que poderá impedir a vitória daquele/s que poderiam limitar o mal, parece evidente que deverá canalizar o seu voto para o bem possível nessa circunstância.
Nuno Serras Pereira
31. 05. 2011