terça-feira, 16 de agosto de 2011

A ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA - P. Gonçalo Portocarrero de Almada


Basílica de Nossa Senhora dos Mártires

A ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Homilia nas bodas de prata sacerdotais

do

P. Gonçalo Nuno Ary Portocarrero de Almada

LISBOA, 15-VIII-2011


A ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Homilia na Basílica de Nossa Senhora dos Mártires, em Lisboa, a 15-VIII-2011

1. Introdução. «O templo de Deus abriu-se no Céu e a arca da aliança foi vista no seu templo. Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça»[1].

É nestes termos que a liturgia da palavra desta Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao Céu nos convida a participar no gozo imenso deste triunfo de Maria que, por ser nossa Rainha, Padroeira e Mãe, é nosso também. É como se o templo de Deus, que é a sua Igreja, se elevasse até ao Céu e a todos nos fosse dado contemplar aquela que, por nela ter sido concebido e gerado o Filho de Deus, é verdadeiramente «a Arca da Aliança»[2].

Através da Igreja, é o próprio Jesus Cristo, Nosso Senhor, o divino Filho desta «mulher revestida de sol»[3], que hoje nos convida a elevar os nossos olhos e os nossos corações para o alto, para nos associarmos aos festejos da assunção da sua e nossa santíssima Mãe. No Céu, os Anjos e Santos cantam eternos louvores à sua Rainha e Senhora[4]. Todos os bem-aventurados entoam cânticos de acção de graças a Deus, Uno e Trino, neste dia em que todo o orbe e também toda a corte celestial exalta a Filha de Deus-Pai, Mãe de Deus-Filho e Esposa de Deus-Espírito Santo[5].

Amiúde pensamos que a Igreja somos só nós, os fiéis que esforçadamente peregrinamos nesta terra, em demanda da pátria celestial. Sem dúvida, por graça do nosso Baptismo e da perseverança que a misericórdia de Deus até à data nos alcançou, somos verdadeiramente o Seu povo, as ovelhas do Seu rebanho[6]. Mas são também Igreja quantos, vencido o bom combate da fé[7], vivem agora e para sempre na luz e amor que Deus é; como também o são quantos, embora salvos, aguardam que se conclua o tempo da sua purgação, para que possam finalmente ser admitidos na glória da visão beatífica. Estes últimos, imploram os nossos sufrágios, em orações e sacrifícios, mas aqueles primeiros que já contemplam a Deus, oferecem-nos a eficácia da sua poderosa intercessão e o imenso gozo da sua definitiva salvação. Por isso, a Igreja não cessa de elevar os seus olhos para estes seus vitoriosos filhos, para que a sua glória, que mais não é do que a sua participação na gloriosa Ressurreição e Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, nos ilumine e proteja nesta vida. Neste nosso «vale de lágrimas»[8], quanta necessidade temos desse resplendor da glória celestial, desse olhar e bênção da Mãe de Deus!

Segundo uma lenda medieval, um monge muito devoto de Nossa Senhora, recebeu do Céu o seguinte aviso: ‘Ser-te-á concedida a graça de veres a Mãe de Deus, mas os olhos que tiverem a dita de a contemplar, de imediato cegarão’.

O frade ficou grato pelo extraordinário privilégio de poder ver a destinatária da sua tão terna devoção, mas também apreensivo com o elevado preço que, por esse motivo, deveria satisfazer. Mas como, se não lhe faltava piedade, também não era escassa a sua esperteza, decidiu aceitar o desafio, à conta de manter fechado um olho, para assim só perder o outro.

Contudo, no dia seguinte à anunciada aparição mariana, o zeloso religioso apresentou-se à sua comunidade cego dos dois olhos, para grande espanto dos seus irmãos em religião, que estavam a par do seu matreiro estratagema.

- ‘Nossa Senhora é tão bonita que – disse-lhes o monge agora invisual – depois de a ter visto, já não quero ver mais nada!’

São Josemaria, numa filial confidência, pediu a Nossa Senhora a graça de morrer contemplando-a e que ela lhe entregasse uma flor. E foi ao bater do meio-dia, hora mariana por excelência, do dia 26 de Junho de 1975, que o santo fundador do Opus Dei trocou um último olhar de amor com uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, que presidia ao seu quarto de trabalho, para logo de imediato render a sua alma ao Criador[9].

Como é bom olhar para Maria! São Bernardo, num inspirado lance da sua eloquente pregação, assim se expressava sobre o poder desta maternal intercessão: «Se se levantam os ventos das tentações, […] olha para a estrela, invoca Maria. Se te inquietam as ondas da soberba, da ambição ou da inveja, olha para a estrela, invoca Maria. Se a ira, a avareza ou a impureza impelem violentamente a nave da tua alma, invoca Maria. Se, perturbado pela memória dos teus pecados, confuso ante a fealdade da tua consciência, temeroso ante a ideia do juízo, começas a afundar-te no abismo sem fim da tristeza ou da desesperação, pensa em Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Não se afaste Maria da tua boca, não se afaste do teu coração, e para conseguir a sua ajuda intercessora, não te afastes dos exemplos da sua virtude. Não te descaminharás se a seguires, não desesperarás se lhe rezas, não te perderás se nela pensas. Se ela te dá a sua mão, não cairás; se te protege, nada terás que temer; não te cansarás se for a tua guia, chegarás felizmente a bom porto se Ela te amparar»[10].

2. A ressurreição e ascensão de Cristo e a assunção de Maria. «Do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda»[11].

A Igreja, ao declarar dogma da nossa fé a Assunção ao Céu, em corpo e alma, de Nossa Senhora[12], não se pronunciou sobre uma eventual ressurreição de Maria, antes da sua subida para junto de Deus. Na realidade, a Santíssima Virgem poderia ter passado desta vida terrena à celestial, sem necessidade de sofrer o transe da morte, da qual a sua condição de imaculada do pecado original a dispensava. No entanto, a doutrina católica não deixa de recordar a íntima relação existente entre os mistérios gloriosos da Ascensão do Senhor aos Céus e da Assunção de Maria. Com efeito, enquanto Nosso Senhor Jesus Cristo sobe, para junto de seu Pai, pela força e virtude da sua própria divindade, unida à sua santíssima humanidade, Maria, como criatura que é, não pode por si mesma elevar-se ao Céu, pois só pela omnipotência de Deus a criatura humana pode transcender o que é próprio da sua terrena condição[13].

Por este motivo, a liturgia não fala da Ascensão de Nossa Senhora, mas da sua Assunção, que releva a participação passiva no mistério da sua exaltação, que tem a Deus por autor. Não é Maria que se exalta a si mesma, mas é o Pai, o Filho e o Espírito Santo que, seduzidos pela beleza da sua virtude, a chamam para a glória do Céu[14]. Do mesmo modo como Maria não foi imaculada pelo seu próprio mérito, nem gerou o seu divino Filho por sua iniciativa, mas por graça do Paráclito, também não sobe para junto de Deus, em corpo e alma, por sua própria recreação, mas em virtude dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, do amor do Pai e da graça do Espírito Santo.

3. Nossa Senhora, a primeira astronauta da história da humanidade. Na ladainha lauretana do terço, abundam as invocações a Maria, celebrada como «Torre de David, Torre de marfim, Casa de ouro, Arca da Aliança» e também «Porta do Céu»[15]. Muito embora Nossa Senhora o seja, porque foi por seu intermédio que o Céu veio até nós, em Cristo Nosso Senhor, e, por Ele, nós agora também podemos ir para o Céu, a verdade é que a Imaculada Conceição é muito mais do que o mero umbral pelo qual se acede à eternidade. Com efeito, Maria é a primeira criatura humana que chega à eternidade em corpo e alma e que, por isso já vive na situação que os bem-aventurados só alcançarão depois da gloriosa ressurreição dos seus corpos, prevista apenas para quando se verificar o fim do mundo.

Neste sentido, Nossa Senhora é o protótipo da humanidade resgatada, no seu corpo e alma, por Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, enquanto os santos, cujos corpos ainda não ressuscitaram, só os recuperarão nessa hora final, Maria subiu ao Céu já com o seu corpo imaculado e revestido de glória, no momento da sua assunção. Por este motivo é, de certo modo, a primeira mulher no espaço, a primeira astronauta da história da humanidade![16]

A penúltima aparição de Nossa Senhora em Fátima, no dia 13 de Setembro de 1917, foi presenciada por uma multidão de peregrinos, entre os quais se contava o sacerdote que viria a ser vigário-geral da diocese de Leiria-Fátima e que se encontrava na companhia de um amigo, também padre. «Com grande admiração minha» – escreveu o referido Monsenhor João Quaresma – vi «clara e distintamente um globo luminoso, que se movia do nascente para o poente, deslizando, lento e majestoso, através do espaço. O meu amigo olhou também e teve a felicidade de gozar da mesma inesperada e encantadora aparição… quando, de repente, o globo, com a sua luz extraordinária, sumiu-se aos nossos olhos»[17]. Intrigado pelo fenómeno, perguntou ao seu amigo:

«- Que pensas daquele globo? […].

«- Que era Nossa Senhora! – respondeu sem hesitar.

«Era também a minha convicção. Os pastorinhos, numa celeste visão, contemplaram a própria Mãe de Deus; a nós fora-nos concedida a graça de ver o aeroplano que a tinha transportado do Céu à charneca inóspita da Serra de Aire…»[18].

Ainda sobre este particular, esclarece o Cónego Barthas: «Algumas narrativas acrescentam que o globo luminoso tinha uma forma oval, com o lado maior voltado para baixo. Todos os que o viram, tiveram a impressão, como os dois sacerdotes já citados, de que se tratava de uma forma semelhante a um avião que trazia a Mãe de Deus ao encontro prometido dos pastorinhos e que a transportou de novo ao Paraíso»[19].

É quanto basta para poder concluir que Nossa Senhora não só é, de facto, a primeira mulher astronauta, como foi também a primeira criatura humana que viajou numa nave espacial!

Mais do que os que chegaram à lua, ou cruzaram o espaço sideral nos seus supersónicos foguetões, Maria, a donzela de Nazaré, venceu as distâncias estelares com a graça da sua correspondência à Vontade de Deus! Não só ultrapassou as imensidões galácticas do universo, como dominou o próprio firmamento, agora reduzido à servil condição de meros pajens da realeza da nossa Padroeira e Rainha: como escreveu o autor do Apocalipse, ela é a «mulher revestida de sol»[20], que tem, como escabelo dos seus pés, a lua e, a cingir a sua régia fronte, como diadema real, «um coroa de doze estrelas»![21]

«Se ressuscitastes com Cristo» – diz São Paulo aos colossenses – «procurai as coisas que são do alto, onde Cristo está sentado à direita do Deus, saboreai as coisas do alto, não as da terra»[22], aspirai às coisas do Céu. Foi essa santa ambição que guiou Nossa Senhora nessa última viagem do seu corpo e da sua alma. Por isso, ninguém melhor do que Maria, a «Estrela da manhã»[23], para nos guiar pelos caminhos da terra e do espaço, de forma que, como ela, também nós sejamos dignos de alcançar, pela infinita misericórdia de Deus, a glória eterna.

Quando a Irmã Lúcia interrogou a «Senhora mais brilhante do que o sol» sobre o destino eterno do seu primo, o agora Beato Francisco Marto, Nossa Senhora confirmou a sua salvação, acrescentando, no entanto, que teria ainda que rezar muitos terços[24]. De uma jovem amiga da Lúcia, falecida pouco antes das aparições na Cova da Iria, Maria disse que estaria no purgatório até ao fim do mundo[25]. E na Capela Sixtina, Miguel Ângelo pintou um anjo que puxa para o céu dois homens, servindo-se para o efeito de uma corda com contas, ou seja, de um terço. Não estranha, portanto que, em todas e cada uma das aparições em Fátima, Nossa Senhora tenha insistido na necessidade da reza diária do terço, para a salvação das almas da Igreja purgante e militante[26].

4. Acção de graças a Deus pela humildade da sua serva. «Maria disse então: ‘A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações’»[27]. A resposta de Nossa Senhora ao chamamento de Deus para a difícil missão que Deus lhe pediu, tão cheia de trabalhos e tão escassa de consolos, é um explosivo cântico de acção de graças, em que toda a grandeza da humildade de Maria rebrilha no resplendor da graça de Deus.

Estas palavras da nossa Rainha e Padroeira foram ditas em resposta à saudação de Isabel, mas quando a sua gravidez não era conhecida e, portanto, Nossa Senhora ainda ignorava como é que o seu esposo, José, iria reagir àquela milagrosa concepção extra-matrimonial[28]. Por outro lado, era sabida a crueldade do Rei Herodes que, por temor de ser destronado, tinha mandado matar alguns dos seus filhos. Era portanto expectável que não aceitasse de bom grado o nascimento do verdadeiro Rei dos judeus e que, em consequência, O perseguisse, obrigando a exilar-se a sua modesta família[29]. Além do mais, nem Nossa Senhora nem São José tinham bens de fortuna que lhes permitissem receber dignamente Aquele que, segundo o Anjo, «será grande, será chamado Filho do Altíssimo», receberá «o trono de seu pai, David» e «reinará sobre a casa de Jacob eternamente e o seu reino não terá fim»[30]. Por último, era imensa a responsabilidade de guardar, alimentar e instruir o próprio Filho de Deus! Por tudo isto, que era bem presente ao entendimento de Maria, seria lógico que o cântico de Nossa Senhora não fosse outra coisa do que um profundo lamento pela terrível tarefa de que fora incumbida, juntamente com São José, sem quase meios humanos que pudessem assegurar o seu feliz desempenho.

Em substituição do seu cântico de alegria e de acção de graças, Nossa Senhora deveria ter desfiado um rosário de amargas lamentações: A minha alma queixa-se ao Senhor e o meu espírito se entristece porque o Senhor, meu Deus, não olhou para a falta de condições da sua serva e, portanto, de hoje em diante me chamarão desgraçada todas as gerações… Em vez do Magnificat, teríamos o Tristificat, uma espécie de canto fúnebre!

Será que Nossa Senhora não tinha consciência da incrível perturbação que a sua maternidade divina iria significar na sua vida? É questão que não se pode pôr, porque a inteligência da Imaculada Conceição era muito mais sábia e prudente do que qualquer sabedoria terrena e, por outro lado, a plenitude de graça que lhe foi concedida no momento da sua virginal concepção do Filho do Altíssimo[31], não só gerou uma vida divina no seu ventre virginal, como iluminou o seu entendimento e incendiou a sua vontade. Maria sabia, melhor do que ninguém, o que estava para acontecer, porventura com mais exactidão e pormenor do que a profecia de Simeão, anunciando-lhe a rejeição do Messias pelo povo de Israel e, concomitantemente, a espada que trespassaria o seu dolorosíssimo coração de mãe[32].

A razão da alegria de Maria não se explica pela sua natural ignorância do que iria ocorrer, mas pela sobrenatural pujança da sua fé. Ou seja, sabia que nada nem ninguém poderia nunca separá-la da grandeza do amor de Deus. Por isso, com ainda mais propriedade do que Saulo de Tarso, podia fazer seu o cântico de acção de graças deste apóstolo: «eu estou certo que nem a morte, nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem nenhuma outra criatura nos poderá separar do amor que Deus nos manifesta em Cristo Jesus, Senhor Nosso»[33].

5. Conclusão. Os filhos de Zebedeu pediram a sua mãe que exigisse, para eles, os dois melhores lugares no Céu: à direita e à esquerda de Nosso Senhor Jesus Cristo[34]. Por esta sua intervenção, a mando dos gananciosos apóstolos Tiago e João, pretendentes aos melhores «tachos» na corte celestial, tão ao jeito dos brandos costumes da nossa terrinha, já em tempos me atrevi a supor a nacionalidade portuguesa desta pouco exemplar família, que não teria dúvidas em apelidar com o nome Cunha, que indiscutivelmente provaram merecer…

É sabido que a manobra não resultou, não só porque o Mestre não cedeu à pressão da boa mulher, instigada pelos seus filhos, como estes tiveram também que fazer frente à indignação dos outros discípulos, quando o seu ínvio propósito foi desvendado[35].

Mas, quando Nosso Senhor não nos dá o que Lhe pedimos, é porque nos quer dar mais e melhor e, por isso, ofereceu aos ambiciosos «filhos do trovão»[36] o seu cálice: «‘Podeis beber o cálice que eu hei-de beber?’ Eles responderam-Lhe: ‘Podemos!’ Disse-lhes [Jesus]: ‘Efectivamente, haveis de beber o Meu cálice…’»[37].

Peçamos a Jesus esse bem maior, que é a graça de com Ele sofrer, como Maria[38], para que depois, com Ele e Nossa Senhora, reinarmos na eternidade. E, como nos consta a nossa fraqueza e debilidade, peçamos à nossa querida Mãe do Céu, Padroeira e Rainha de Portugal, que nos alcance a graça da fidelidade e nos assista «agora, e na hora da nossa morte. Amen».


DUAS PALAVRAS FINAIS,

A PROPÓSITO DAS BODAS DE PRATA SACERDOTAIS

1. Acção de graças pelo dom do sacerdócio. «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva»[39]. Ao cumprir-se, nesta Solenidade da Assunção de Maria, o vigésimo quinto aniversário da minha ordenação sacerdotal, ocorrida em tal data do ano de 1986, no Santuário de Nossa Senhora dos Anjos, em Torreciudad, a escassos quilómetros dos Pirinéus, faço meu o cântico de acção de graças da Mãe de Deus, pelo imenso dom do sacerdócio.

Foi com alguma relutância que aceitei comemorar este aniversário, pois sempre quis cumprir o lema sacerdotal de São Josemaria: «ocultar-me e desaparecer, para que só Jesus brilhe»[40]. Contudo, a amiga insistência de alguns familiares e amigos, levou-me a condescender nesta discreta evocação dessa data[41].

2. As razões de uma não celebração. Se acedi a participar nesta singela comemoração, sem outras manifestações para além desta celebração litúrgica, foi contudo na expressa condição de que a mesma não fosse centrada na efeméride sacerdotal, mas no glorioso mistério da Assunção de Nossa Senhora, sobre o qual versou, na íntegra, a homília há instantes pronunciada nesta belíssima Basílica de Nossa Senhora dos Mártires.

Por duas razões quis que assim se fizesse: em primeiro lugar, porque, de outro modo, a celebração eucarística poderia parecer centrada na minha pessoa que, como é óbvio, não merece nenhuma homenagem, muito menos em tão grande festa. Que sentido faria, no dia da Assunção da nossa Rainha e Padroeira, falar-se deste seu insignificante servo?! Com que direito, nesta solenidade de Nossa Senhora, se referiria um seu tão obscuro criado?! Ao lado do esplendor de santidade e graça da Mãe de Deus, quem se atreveria a colocar a sua própria virtude que, por muita que seja – e não é esse, certamente, o meu caso! – nada é, se comparada com a da Santíssima Virgem, a «cheia de graça»[42]?!

O saudoso Papa João Paulo I observou, com profundidade teológica e bom humor, que teria sido muito disparatado que, quando Nosso Senhor entrou triunfalmente em Jerusalém montado num burrinho, este animal, ouvindo aquelas aclamações, as entendesse a si dirigidas e as agradecesse![43] Foi para não incorrer em tal burrice que me opus a qualquer celebração pessoal e pedi que todas as ofertas revertessem para os Santos Lugares, através da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém, que fez a graça de me receber.

Uma segunda razão me determinou neste sentido, uma razão por sinal mais pessoal, se não mesmo egoísta. Com efeito, se falar de mim próprio me entristece e enfastia, porque me vejo tão escasso de mérito, nada, pelo contrário, me alegra tanto como pregar o amor de Deus e as glórias de Maria. Todo o tempo me parece pouco para proclamar a grandeza da misericórdia do meu Pai Deus, de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo porque, como Maria, é glorificando o Senhor que mais o meu espírito exulta e se alegra[44]!

3. Agradecimentos vários. Se é para Deus, Uno e Trino, que se eleva agora a minha alma, agradecida e humilhada, é devida também uma palavra de gratidão a tantas pessoas que, ao longo da minha vida, foram instrumentos de que Deus se serviu para a minha edificação.

Agradeço à minha Mãe a grande graça do lar cristão em que nasci e a bênção do seu afecto, que nunca me faltou. Agradeço aos meus irmãos[45], sobrinhos, avós, tios[46] e primos[47], o apoio que me deram e, sobretudo, as suas orações.

É com muita saudade e gratidão que desejo fazer uma especial menção de dois familiares que o Senhor já chamou à Sua presença[48]. Em primeiro lugar, o meu Pai, que foi sempre, para mim, um exemplo de virtudes humanas e cristãs, e o meu Avô Mateus[49] que, apesar de falecido cerca de vinte anos antes do meu nascimento, rezou e fez rezar por mim, quando pediu e ensinou os seus filhos a pedirem para que houvesse vocações na família. Quem sabe se não é devido, em parte, a essa sua intercessão e à oração familiar que hoje, graças a Deus, para além de um seu filho e neto padres, um seu bisneto e meu sobrinho se prepara também para receber a ordenação sacerdotal?!

Nesta minha muito abreviada acção de graças, não posso deixar de referir, com filial emoção, São Josemaria Escrivá de Balaguer, pelo muito que lhe devo e porque todos os sacerdotes do Opus Dei somos filhos da sua oração e expiação[50]. É de justiça uma saudosa evocação do anterior Prelado, D. Álvaro del Portillo[51], que me chamou às sagradas ordens, e dos Senhores Bispos que me conferiram o diaconado e o presbiterado, igualmente já falecidos[52], sem esquecer o meu actual Prelado[53], a quem estou também especialmente reconhecido, nem o Senhor Patriarca[54], que precisamente hoje festivamente celebra, na comunhão da Igreja diocesana, as suas Bodas de Ouro sacerdotais.

Recordo também os meus professores e condiscípulos no Seminário Internacional da prelatura, em Roma[55], bem como os meus muito prezados dezanove colegas de ordenação que hoje, comigo, festejam as Bodas de Prata sacerdotais[56]. Espalhados pelas sete partidas do mundo[57], mas unidos «na doutrina dos apóstolos, na união fraterna, na fracção do pão e nas orações»[58], eles, mais e melhor do que eu, são como o fermento no meio da massa[59], o grão de trigo que voluntariamente morre para que, pela sua morte, muitos alcancem a graça da vida eterna[60].

É com especial alegria que me dirijo ao Senhor Cónego Armando Duarte, que amavelmente disponibilizou a Basílica de Nossa Senhora dos Mártires para esta celebração[61], com a mesma fidalga hospitalidade com que há um quarto de século, me ofereceu a Igreja de Nosso Senhor dos Navegantes, em Paço de Arcos, onde era então Pároco, para que eu aí celebrasse a minha Missa Nova, no dia 22 de Agosto de 1986, festa de Nossa Senhora Rainha. Desde então, tem sido para mim, mais do que um irmão no sacerdócio, um mestre e um exemplo de tantas virtudes pastorais, que não exagero se disser que é uma referência que continuamente inspira o meu modesto serviço à Igreja e às almas. Bem haja, Padre Armando, e desculpe o meu abuso da sua amizade!

Os meus amigos que aqui estão presentes, como presentes estiveram também muitos, há vinte e cinco anos, na minha ordenação, são, graças a Deus, como as estrelas do céu e as areias do mar[62] e, por isso, não podem ser citados nominalmente. Mas os seus nomes estão escritos no meu coração e são diariamente recordados na minha oração, sobretudo quando celebro a Santa Missa.

5. Pedido de perdão e de orações. A todos quero ainda fazer um duplo pedido. O primeiro, como não podia deixar de ser, é de desculpa se vos ofendi ou escandalizei, se porventura negligenciei os meus deveres como sacerdote, como familiar ou amigo. Por todas as vezes que não soube estar a vosso lado, ou não soube ver, nos vossos rostos, a amabilíssima face do meu Senhor, perdão! Que a vossa caridade me ofereça, neste dia, a remissão destas minhas faltas e eu possa ouvir dos vossos lábios uma palavra de absolvição, tão sincera e amiga como é verdadeira e humilde a minha contrição.

Por último, estendo-vos a mão como um mendigo, já que o sou na verdade da minha consciência, para que as vossas orações e a vossa amizade me acompanhem sempre e tenhais comigo a solicitude dos bons filhos de Noé, que cobriram com o manto da caridade as faltas do seu pai[63]. Como sabeis bem, eu não sou tão mau como pareço: sou muito pior!

6. Consagração a Nossa Senhora. A Nossa Senhora da Assunção me consagro e entrego de novo, como há vinte e cinco anos, rezando convosco: «Ó Senhora minha, ó minha Mãe, eu me ofereço todo a Vós e em prova da minha devoção para convosco, Vos consagro neste dia os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração e todo o meu ser; e porque assim sou todo vosso, ó incomparável Mãe, guardai-me e defendei-me como coisa e propriedade vossa. Lembrai-vos que vos pertenço, terna Mãe, Senhora nossa, guardai-me e defendei-me como coisa própria vossa. Ámen»[64]. Deo gratias!

LAUS DEO VIRGINIQUE MATRI



[1] Ap 11, 19a. 12,1.

[2] Ap 11, 19a.

[3] Ap 12, 1. Cfr. Irmã, Lúcia, Quarta memória, nº 3, in Memórias da Irmã Lúcia, 7ª edição, Ed. Vice-Postulação, Fátima 1997, pág. 161.

[4] «E a Corte celestial ostenta todo o seu esplendor para receber a Senhora» (Josemaria Escrivá, Santo Rosário, 6ª edição, Diel-Prumo, Lisboa 2004, págs. 58).

[5] «A Trindade Santíssima recebe e cumula de honras a Filha, Mãe e Esposa de Deus…» (Ibidem).

[6] Cfr. Jo 21, 16.17.

[7] Cfr. 2Tm 4, 7.

[8] Cfr. Salvé Rainha, in Missal quotidiano, Edições Theologica, Braga 1989, pág. 2446.

[9] Valentín Vázquez de Prada, Josemaria Escrivá, Fundador do Opus Dei, Ed. Verbo, Lisboa 2003, vol. III, pág. 606; Salvador Bernal, Monsenhor Josemaria Escrivá de Balaguer, Apontamentos sobre a vida do Fundador do Opus Dei, Ed. Prumo e Ed. Aster, Lisboa 1978, pág. 88; etc.

[10] S. Bernardo, Homília sobre a Virgem Mãe, nº2, cit. in Francisco Fernández Carvajal, Antologia de textos para hacer oración y para la predicación, 8ª ed., Ed. Palabra, Madrid 1985, pág. 1499, nº 5428.

[11] 1 Cor 15, 22-23.

[12] «Pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi levada em corpo e alma para a glória celestial» (Pio XII, Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, 1-11-1950, cit in Enrique Denzinger, El Magistério de la Iglesia, Herder, Barcelona 1963, nº 2331-2333, págs. 611-613).

[13] Assim o afirma Jesus Cristo, em termos genéricos, na parábola da videira e das varas: «Aquele que permanece em Mim e Eu nele, essa dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15, 5).

[14] «Maria foi levada por Deus, em corpo e alma, para o céu. […] A Trindade Santíssima recebe e cumula de honras a Filha, Mãe e Esposa de Deus…» (Josemaria Escrivá, Santo Rosário, cit., págs. 57 e 58).

[15] Idem, pág. 69.

[16] Valentina, a celebrada soviética a quem se atribuía essa honra, terá sido, quanto muito, a segunda mulher astronauta.

[17] Cónego C. Barthas, Fátima, Ed. Aster, Lisboa 1967, págs. 130-131.Cfr. Irmã, Lúcia, Quarta memória, nº 3, in Memórias da Irmã Lúcia, 7ª edição, Ed. Vice-Postulação, Fátima 1997, pág. 161.

[18] Cónego C Barthas, Fátima, cit., pág. 131.

[19] Idem, pág. 132.

[20] Ap 12, 1. Assim a descreve a principal vidente de Fátima: «uma Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante que o Sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de cristal, cheio de água cristalina, atravessadso pelos raios do sol mais ardente» (Irmã, Lúcia, Quarta memória, nº 3, in Memórias da Irmã Lúcia, cit., pág. 161).

[21] Ap 12, 1.

[22] Col 3, 1-2.

[23] Josemaria Escrivá, Santo Rosário, cit., pág. 69.

[24] Cfr. Irmã, Lúcia, Quarta memória, nº 3, in Memórias da Irmã Lúcia, cit., pág. 162. Cfr. Irmã, Lúcia, Quarta memória, nº 3, in Memórias da Irmã Lúcia, cit., pág. 162; Cónego C. Barthas, Fátima, cit., pág. 42.

[25] Cfr. Irmã, Lúcia, Quarta memória, nº 3, in Memórias da Irmã Lúcia, cit., pág. 162. O Cónego Barthas, embora refira que Nossa Senhora afirmou que esta amiga da Lúcia, de seu nome Amélia, recentemente falecida, estaria no purgatório, não reproduz a expressão «até ao fim do mundo» (Cfr Cónego C. Barthas, Fátima, cit., pág. 42), que alguns consideram que não deve ser interpretada literalmente, mas como sinónima de «por muito tempo» (Cfr. Irmã, Lúcia, Quarta memória, nº 3, in Memórias da Irmã Lúcia, cit., pág. 162, nota 13).

[26] É significativo que em todas a s aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria, há uma referência expressa à necessidade da reza do terço, algumas vezes até mais do que uma vez na mesma aparição, como por exemplo, na que ocorreu a 13 de Maio de 1917. Em todas é dito também, expressamente, que a sua reza deve ser diária, excepto na última, em que não há menção explícita da periodicidade quotidiana dessa oração mariana que, contudo, se subentende: «continuem a rezar o terço» Cfr. Irmã, Lúcia, Quarta memória, in Memórias da Irmã Lúcia, cit., págs. 162, 165, 166, 167, 172, 173 e 174.

[27] Lc 1, 46-48.

[28] Cfr. Mt 1, 18-25.

[29] Cfr. Mt 2, 13-23.

[30] Cfr. Lc 1, 32-33.

[31] Cfr Lc 1, 28.

[32] Cfr. Lc 2, 34-35.

[33] Rm 8, 38-39.

[34] Cfr. Mt 20, 20-23; Mc 10, 35-40.

[35] Cfr. Mt 20, 24-28; Mc 10, 41-45.

[36] Cfr. Mc 3, 17.

[37] Mt 20, 22-23.

[38] Cfr Jo 19, 25-27.

[39] Lc 1, 46-48.

[40] Salvador Bernal, Monsenhor Josemaria Escrivá de Balaguer, Apontamentos sobre a vida do Fundador do Opus Dei, Ed. Prumo e Ed. Aster, Lisboa 1978, págs. 10, 195, 284 e 350.

[41] Não obstante esse seu lema sacerdotal, São Josemaria festejava todos os anos, entre outros seus aniversários, o dia da ordenação presbiteral, que ocorreu a 28 de Março de 1925. Excepcionalmente, não comemorou as suas Bodas de Ouro sacerdotais, por coincidirem com a Sexta-feira Santa desse ano de 1975, que foi também o do seu nascimento para a vida eterna (cfr. Idem, págs. 350-355).

[42] Lc 1, 28.

[43] «Quando recebo um elogio, tenho necessidade de me comparar ao burrinho que transportava Cristo no Dia de Ramos. E digo a mim próprio: se aquele [burro], ao sentir os aplausos da multidão, se tivesse ensoberbecido e tivesse começado – burro como ele era – a agradecer à direita e à esquerda, com reverências de prima dona, quantas gargalhadas não teria provocado!» (Albino Luciani, Ilustríssimos Senhores, Cartas do Patriarca de Veneza, Ed. Cidade Nova, Lisboa 1978, pág. 74).

[44] Cfr. Lc 1, 46-48.

[45] Principalmente à Mariana e ao Vasco, aos quais agradeço a sua presença em Torreciudad, há vinte e cinco anos, sem esquecer o meu cunhado Manuel, que também assistiu à minha ordenação sacerdotal.

[46] Em especial aos meus tios Pedro e Odile que, não obstante viverem em França, fizeram questão de estar presentes no dia 15 de Agosto de 1986.

[47] Em particular à Pilar, que me acompanhou no dia da minha ordenação e insistiu especialmente para que se fizesse esta celebração evocativa das minhas Bodas de Prata sacerdotais.

[48] É de justiça citar também, a este propósito, os meus tios Francisco e Mariazinha, que me acompanharam na minha ordenação diaconal, a 13 de Julho de 1986, também no Santuário de Nossa Senhora dos Anjos, em Torreciudad.

[49] Cfr., da minha autoria, História de um grão de trigo, Evocação do Engº Mateus Cardoso Peres (1897-1939), Editora Diel, Lisboa 2002.

[50] «Rezei tanto, que posso afirmar que todos os sacerdotes do Opus Dei são filhos da minha oração» (São Josemaria Escrivá, cit. in Salvador Bernal, Monsenhor Josemaria Escrivá de Balaguer, Apontamentos sobre a vida do Fundador do Opus Dei, Ed. Prumo e Ed. Aster, Lisboa 1978, pág. 152).

[51] Cfr.Hugo de Azevedo, Missão cumprida, Biografia de Álvaro del Portillo, Ed. Diel, Lisboa 2008; Salvador Bernal, Recordando Álvaro del Portillo, Diel, Lisboa 1999.

[52] Respectivamente os Senhores Cardeal D. Agustín García Gasco, Arcebispo de Valência, e o Senhor D. Ambrósio Echebarría, Bispo de Barbastro, diocese de que era natural São Josemaria Escrivá de Balaguer.

[53] O Senhor D. Javier Echevarria, Prelado da Santa Cruz e Opus Dei e Bispo titular de Cilibia.

[54] O Senhor D. José da Cruz Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa.

[55] Sem esquecer os meus professores e colegas da Faculdade de Filosofia da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, também em Roma.

[56] Os Padres Alejandro Colmeiro, Christian Spalek, Francisco Prado, Gonzalo Chocano, Harry Wong, José Manuel Paniagua, José Maria Klappenbach, José Maria Pich-Aguilera, José Ramón Villar, Juan Jesús Torre, Luís Alfonso de Blas, Manuel de la Barrera, Manuel Esteruelas, Michel Esparza, Rafael de Ojeda, Roque Reyes, Salvador Fornieles, Stefan Hnylycia e Thomas Schauff.

[57] Como membros do presbitério da Prelatura do Opus Dei, exercem actualmente o seu ministério sacerdotal nos seguintes países: Alemanha, Argentina, Áustria, Austrália, Canadá, Espanha, Filipinas, Grã-Bretanha, Holanda, Hong-Kong, México e Uruguai.

[58] Act 2, 42.

[59] Cfr. Mt 13, 33, Lc 13 20-21.

[60] Cfr. Jo 12, 24-26.

[61] Incluo neste agradecimento a Maria do Carmo Teixeira Duarte Robles Machado e todas as outras pessoas que ajudaram na preparação ou colaboraram nesta celebração em honra de Nossa Senhora da Assunção, bem como a Zita Seabra, que teve por bem providenciar esta breve publicação evocativa dos vinte e cinco anos da minha ordenação sacerdotal.

[62] Cfr. Gen 22, 17.

[63] Cfr. Gen 9, 18-28.

[64] Consagração a Nossa Senhora, in Missal quotidiano, Edições Theologica, Braga 1989, pág. 2450.