Pouco depois da invasão da Polónia, em 1939, Hitler
autorizou os médicos alemães a empregar medidas de suicídio assistido
involuntário. Foram abertos seis centros de eutanásia, designados, eufemisticamente,
Fundações Caridosas para Cuidados Institucionais. Como o nome indica, a matança
foi racionalizada como sendo um acto de compaixão.
Os julgamentos de Nuremberga revelaram que este programa
inicial, limitado à Alemanha, tinha sido responsável pela morte de 70 mil
adultos e cinco mil crianças, apesar de outras estimativas apontarem para os
400 mil. O programa foi encerrado em 1941 por ordem do Führer, porque estava a
despertar oposição no país.
O bispo católico de Múnster, August von Galen, causou grande
impacto público quando denunciou as políticas de eutanásia a partir do púlpito,
em 1941:
Se estabelecermos e
aplicarmos o princípio de que se pode “matar” seres humanos improdutivos, então
ai de nós quando formos velhos e frágeis! Se podemos matar os improdutivos,
então ai dos inválidos que esgotaram, sacrificaram e perderam a sua força e a
sua saúde no processo produtivo... Pobres, doentes, improdutivos, e daí? Acaso
eles perderam o direito à vida? Vocês e eu temos o direito a viver apenas
enquanto formos produtivos?... Ninguém estaria a salvo. Quem poderia confiar no
seu médico? O comportamento depravado e a suspeição que entrariam na vida
familiar caso esta doutrina terrível seja tolerada, adoptada e praticada são
inconcebíveis.
Houve protestos públicos – uma raridade na Alemanha nazi.
A resposta dos nazis foi de transferir os programas para os
países conquistados, a leste, onde acabaram por se transformar na Solução
Final. O suicídio assistido involuntário tornou-se a “solução médica” para
eliminar não só os doentes, mas também os judeus, ciganos e eslavos, que eram
considerados raças “doentes”.
Depois da Segunda Guerra Mundial o movimento para o suicídio
assistido voltou à clandestinidade. Mas nos anos 60 e 70 estava a regressar,
levando o comentador britânico Malcolm Muggeridge a dizer: “Podem submeter isto
ao livro dos recordes do Guinness: leva apenas trinta anos para a nossa
sociedade humanista transformar um crime de guerra num acto de compaixão.”
Eis que a Euthanasia Education Council mudou de nome para
Concern for Dying, Inc.; e a Euthanasia Society of America se transformou na
Society for the Right to Die, Inc. Apareceram outras organizações, como a
Choice in Dying.
Não deixa de ser preocupante que as mesmas nações que fazem
fronteira com a Alemanha e que testemunharam as políticas grotescas de Hitler –
A Bélgica, Holanda e o Luxemburgo – tenham legalizado a eutanásia,
consagrando-a como direito humano fundamental.
Desde a década de 70 que os tribunais holandeses têm estado
a aumentar a quantidade de candidatos à eutanásia. No início dos anos 90 o
poder judicial já permitia o suicídio assistido para doentes psiquiátricos que
estavam fisicamente sãos. Num caso um psiquiatra foi ilibado de ajudar um
doente mental a suicidar-se porque o tribunal concluiu que o doente, embora
mentalmente doente, era competente e livre de decidir que queria morrer. O
tribunal considerou que seria discriminatório permitir o suicídio assistido
apenas para pessoas que sofriam de forma física. A dor psicológica ou mesmo a
infelicidade não podem ser excluídas como razões válidas para o suicídio.
Os tribunais holandeses decidiram que quando a consciência
de um médico está em conflito com a lei, ele está autorizado a receitar a
eutanásia para aliviar o sofrimento. É apresentado como um exemplo de força
maior, uma série de eventos imprevistos que anulam as necessidades legais
normais.
Num
artigo do “Wall Street Journal”, publicado no dia 14 de Junho de 2013,
Naftali Bendavid informa que os casos de eutanásia na Bélgica, onde o
procedimento foi legalizado em 2002, aumentaram de 200 em 2002 para 1133 em
2011.
Actualmente, segundo Bendavid, “A lei belga reserva a
eutanásia para doentes com sofrimento insuportável e condições incuráveis. Mas
o sofrimento não precisa de ser físico nem a doença terminal. A lei também não
requer que o doente informe a sua família da decisão.”
Para piorar a situação, é esperado que o Parlamento belga
aprove uma lei que permita a eutanásia para menores desde que “um psiquiatra
determine que a criança tem capacidade de discernimento” e “desde que os seus
pais concordem”.
O Conselho para os Direitos dos Doentes comentou, acerca
disto: “Se pôr fim ao sofrimento é uma boa prática médica, porque não há-de o ser
para quem tem três anos, cinco ou oito?”
Em resposta, o Arcebispo de Bruxelas, André-Joseph Léonard,
disse: “Os menores são considerados incapazes para certos actos, como comprar e
vender, casar, e por aí fora. E agora, de repente, são suficientemente maturos
aos olhos da lei para poderem pedir a alguém que lhes tire a vida?”
A Bélgica e a Holanda já chegaram ao fundo de um poço. Estão
a matar, voluntariamente, os nascituros, os doentes, os novos e os velhos –
tudo em nome da compaixão.
João Paulo II já nos avisava para isto na sua encíclica de
1995, “O Evangelho da Vida”:
Mesmo quando não é
motivada pela recusa egoísta de cuidar da vida de quem sofre, a eutanásia deve
designar-se uma falsa compaixão, antes uma preocupante “perversão” da mesma: a
verdadeira “compaixão”, de facto, torna solidário com a dor alheia, não suprime
aquele de quem não se pode suportar o sofrimento. E mais perverso ainda se
manifesta o gesto da eutanásia, quando é realizado por aqueles que — como os
parentes — deveriam assistir com paciência e amor o seu familiar, ou por
quantos — como os médicos —, pela sua específica profissão, deveriam tratar o
doente, inclusive nas condições terminais mais penosas.
Se deixarmos de cultivar um sentido da sacralidade da vida
humana até ao seu fim natural – e neste momento a reforma do sistema de saúde
de Obama parece apontar nessa direcção – então não se admirem se os nossos
hospitais e lares se transformarem em matadouros “compassivos”.
(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 26 de Junho de
2013 em The
Catholic Thing)
George J.
Marlin é editor de “The Quotable
Fulton Sheen” e autor de “The American
Catholic Voter”. O seu mais recente livro chama-se “Narcissist
Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.