domingo, 21 de julho de 2013

Eutanásia: O Fundo do Poço - por George J. Marlin

In Actualidade Religiosa 

Pouco depois da invasão da Polónia, em 1939, Hitler autorizou os médicos alemães a empregar medidas de suicídio assistido involuntário. Foram abertos seis centros de eutanásia, designados, eufemisticamente, Fundações Caridosas para Cuidados Institucionais. Como o nome indica, a matança foi racionalizada como sendo um acto de compaixão.

Os julgamentos de Nuremberga revelaram que este programa inicial, limitado à Alemanha, tinha sido responsável pela morte de 70 mil adultos e cinco mil crianças, apesar de outras estimativas apontarem para os 400 mil. O programa foi encerrado em 1941 por ordem do Führer, porque estava a despertar oposição no país.

O bispo católico de Múnster, August von Galen, causou grande impacto público quando denunciou as políticas de eutanásia a partir do púlpito, em 1941:

Se estabelecermos e aplicarmos o princípio de que se pode “matar” seres humanos improdutivos, então ai de nós quando formos velhos e frágeis! Se podemos matar os improdutivos, então ai dos inválidos que esgotaram, sacrificaram e perderam a sua força e a sua saúde no processo produtivo... Pobres, doentes, improdutivos, e daí? Acaso eles perderam o direito à vida? Vocês e eu temos o direito a viver apenas enquanto formos produtivos?... Ninguém estaria a salvo. Quem poderia confiar no seu médico? O comportamento depravado e a suspeição que entrariam na vida familiar caso esta doutrina terrível seja tolerada, adoptada e praticada são inconcebíveis.

Houve protestos públicos – uma raridade na Alemanha nazi.

A resposta dos nazis foi de transferir os programas para os países conquistados, a leste, onde acabaram por se transformar na Solução Final. O suicídio assistido involuntário tornou-se a “solução médica” para eliminar não só os doentes, mas também os judeus, ciganos e eslavos, que eram considerados raças “doentes”.

Depois da Segunda Guerra Mundial o movimento para o suicídio assistido voltou à clandestinidade. Mas nos anos 60 e 70 estava a regressar, levando o comentador britânico Malcolm Muggeridge a dizer: “Podem submeter isto ao livro dos recordes do Guinness: leva apenas trinta anos para a nossa sociedade humanista transformar um crime de guerra num acto de compaixão.”

Eis que a Euthanasia Education Council mudou de nome para Concern for Dying, Inc.; e a Euthanasia Society of America se transformou na Society for the Right to Die, Inc. Apareceram outras organizações, como a Choice in Dying.

Não deixa de ser preocupante que as mesmas nações que fazem fronteira com a Alemanha e que testemunharam as políticas grotescas de Hitler – A Bélgica, Holanda e o Luxemburgo – tenham legalizado a eutanásia, consagrando-a como direito humano fundamental.

Desde a década de 70 que os tribunais holandeses têm estado a aumentar a quantidade de candidatos à eutanásia. No início dos anos 90 o poder judicial já permitia o suicídio assistido para doentes psiquiátricos que estavam fisicamente sãos. Num caso um psiquiatra foi ilibado de ajudar um doente mental a suicidar-se porque o tribunal concluiu que o doente, embora mentalmente doente, era competente e livre de decidir que queria morrer. O tribunal considerou que seria discriminatório permitir o suicídio assistido apenas para pessoas que sofriam de forma física. A dor psicológica ou mesmo a infelicidade não podem ser excluídas como razões válidas para o suicídio.

Os tribunais holandeses decidiram que quando a consciência de um médico está em conflito com a lei, ele está autorizado a receitar a eutanásia para aliviar o sofrimento. É apresentado como um exemplo de força maior, uma série de eventos imprevistos que anulam as necessidades legais normais.

Num artigo do “Wall Street Journal”, publicado no dia 14 de Junho de 2013, Naftali Bendavid informa que os casos de eutanásia na Bélgica, onde o procedimento foi legalizado em 2002, aumentaram de 200 em 2002 para 1133 em 2011.

Actualmente, segundo Bendavid, “A lei belga reserva a eutanásia para doentes com sofrimento insuportável e condições incuráveis. Mas o sofrimento não precisa de ser físico nem a doença terminal. A lei também não requer que o doente informe a sua família da decisão.”

Para piorar a situação, é esperado que o Parlamento belga aprove uma lei que permita a eutanásia para menores desde que “um psiquiatra determine que a criança tem capacidade de discernimento” e “desde que os seus pais concordem”.

O Conselho para os Direitos dos Doentes comentou, acerca disto: “Se pôr fim ao sofrimento é uma boa prática médica, porque não há-de o ser para quem tem três anos, cinco ou oito?”

Em resposta, o Arcebispo de Bruxelas, André-Joseph Léonard, disse: “Os menores são considerados incapazes para certos actos, como comprar e vender, casar, e por aí fora. E agora, de repente, são suficientemente maturos aos olhos da lei para poderem pedir a alguém que lhes tire a vida?”

A Bélgica e a Holanda já chegaram ao fundo de um poço. Estão a matar, voluntariamente, os nascituros, os doentes, os novos e os velhos – tudo em nome da compaixão.

João Paulo II já nos avisava para isto na sua encíclica de 1995, “O Evangelho da Vida”:

Mesmo quando não é motivada pela recusa egoísta de cuidar da vida de quem sofre, a eutanásia deve designar-se uma falsa compaixão, antes uma preocupante “perversão” da mesma: a verdadeira “compaixão”, de facto, torna solidário com a dor alheia, não suprime aquele de quem não se pode suportar o sofrimento. E mais perverso ainda se manifesta o gesto da eutanásia, quando é realizado por aqueles que — como os parentes — deveriam assistir com paciência e amor o seu familiar, ou por quantos — como os médicos —, pela sua específica profissão, deveriam tratar o doente, inclusive nas condições terminais mais penosas.

Se deixarmos de cultivar um sentido da sacralidade da vida humana até ao seu fim natural – e neste momento a reforma do sistema de saúde de Obama parece apontar nessa direcção – então não se admirem se os nossos hospitais e lares se transformarem em matadouros “compassivos”.
(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 26 de Junho de 2013 em The Catholic Thing)
George J. Marlin é editor de “The Quotable Fulton Sheen” e autor de “The American Catholic Voter”. O seu mais recente livro chama-se “Narcissist Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.