In DN
Quem se lembra
do Verão de 2006? Portugal foi quarto no campeonato do mundo de futebol;
a economia crescia 1,4%, o desemprego era 7,4%. Nasciam mais pessoas do
que morriam e os casamentos eram o dobro dos divórcios. Só há sete
anos. Como tudo mudou tanto!
Dois factos dominaram este período. O
mais visível é económico-financeiro: o país, então já atascado em
dívida, caiu de bêbado em 2011 e debate-se na terrível ressaca. A
coberto desta veio a segunda evolução, mais decisiva: um devastador
assalto à cultura e sociedade portuguesas em nome da liberdade sexual,
com extremistas capturando e distorcendo elementos centrais da alma
lusitana. A bebedeira financeira cura-se em menos de sete anos, mas a
investida lasciva será pavorosa por décadas.
Foi no Verão de 2006
que começou a demolição das leis básicas da identidade nacional que
trouxeram Portugal de uma posição mundial equilibrada ao extremo
desmiolado na regulamentação familiar. A primeira foi a Lei 32/2006 de
26 de Julho da reprodução artificial. Seguiu-se a liberalização e
subsidiação do aborto (Lei 16/2007 de 17/4 e Portaria 741-A/2007 de
21/6), banalização do divórcio (Lei 61/2008 de 31/10), educação sexual
laxista (Lei 60/2009 de 6/8), casamento entre pessoas do mesmo sexo (Lei
9/2010 de 31/5), mudança do sexo (Lei n.º 7/2011 de 15/3), entre
outras.
Enquanto noutros países estes assuntos criavam profundos e
longos debates, por cá deu-se o triunfo súbito do fundamentalismo
extremista. Embrulhados em manigâncias capitalistas, os Governos
precisavam de fingir progressismo na ideologia familiar. A sociedade
assustada adoptou a posição cómoda e irresponsável de tolerar a
libertinagem. As forças de defesa da família, em particular a Igreja
Católica, suportaram derrota atrás de derrota fragorosa.
Deste
modo irresponsável, o país alinhou em poucos anos as suas leis básicas
por caprichos de fanáticos, ultrapassando a toda a velocidade os países
civilizados, alguns dos quais já em sentido inverso. Portugal tornou-se
um paraíso mundial de comportamentos desviantes e perversos. Não admira o
colapso do casamento, ausência de fertilidade, envelhecimento
galopante, multiplicação de patologias sociais. Em 2011 os casamentos
foram só mais 34% que os divórcios e houve menos 6000 nascimentos que
óbitos. A geração anterior desequilibrou as finanças em quinze anos;
esta desequilibrou-se a si mesma em sete.
A História mostra duas
coisas. A primeira é que movimentos súbitos, com tal rapidez e
profundidade, nunca param antes do abismo. Com extremistas no controlo
da dinâmica, a coisa irá até ao absurdo. Sorveremos a infâmia até à
última gota.
Todos os dias aumentam aqueles que, tendo começado por
defender as novidades, agora se arrependem vendo os resultados. Mas a
escalada não abranda, atingindo já os temas de requinte, como a
co-adopção por casais do mesmo sexo, que em fases anteriores muitos dos
próprios activistas prometiam nunca acontecer. A espiral devoradora
exige-o, como exigirá as vergonhas seguintes.
Provando que uma
loucura nunca fica a meio, a História ensina ainda que casos destes
servem de vacina para a humanidade. Quando a Rússia em 1917 aceitou que
extremistas dominassem a sua economia, destruiu para sempre o atractivo
intelectual do marxismo. Sem essa experiência, hoje o sistema comunista
ainda seria perigoso, o PCP não estaria residual nem esconderia a
ditadura do proletariado. O desprestígio das ideologias racistas deve-se
também ao facto de a Alemanha ter dado em 1933 o poder a esses
radicais, revelando ao mundo o seu horror. As sociedades que se deixam
controlar por teses aberrantes destroem-se a si mesmas por várias
gerações, mas prestam um serviço à humanidade.
Nos sete anos desde
o Verão de 2006 Portugal enveredou por caminhos anarquistas nos campos
financeiro e familiar. São já bem claros os efeitos dessas opções, mas
ainda não se vê o fim do caminho que, pelo menos no segundo, deve
demorar mais de sete anos. Resta-nos o consolo de o futuro vir a
aprender com os nossos horrores.