A Fé que acontece na Igreja e
através da Igreja é sempre um encontro vital entre Jesus Cristo, Deus Filho
feito homem, e cada pessoa concreta. Este dom ou Graça de Deus antecipa-se à
nossa liberdade, suscita-a, acompanha-a, purifica-a e eleva-a tornando-a capaz
de um assentimento e de uma adesão incondicionais e absolutos à Palavra de
Deus, o Verbo feito carne, em virtude da Sua autoridade Divina, a qual por sê-La,
não Se pode enganar nem nos pode enganar. Evidentemente que a Fé no Logos, no
Verbo, na Palavra, na Razão eterna, incriada e Criadora, é dirigida somente a
seres que Dela participam – pessoas humanas racionais criadas à Sua imagem e semelhança
que verificam uma compatibilidade entre os dados da razão e a Fé que a vem
purificar, aperfeiçoar e completar.
Viver a Fé será então consentir
que o eu de cada um, por virtude do Espírito Santo, seja enxertado no Eu de
Jesus Cristo entrando em Comunhão, com a Santíssima Trindade e com todos os eus
que o Senhor chamou e acolheu em Si, de tal modo que possamos, com S. Paulo,
dizer “já não sou eu que vivo mas é Cristo que vive em mim”. Este Eu de Jesus
Cristo alargado a todos aqueles que em Si incorporou plenamente chama-se Corpo
Místico de Cristo, isto é a Igreja.
Esta amizade com o único Deus
Pai, Filho e Espírito Santo uma vez que é um dom tem de ser incessantemente
implorada e alimentada. Esta nutrição e trato de amor incremental vêm até nós
através dos Sacramentos - que são acções, por sinais, de Cristo Ressuscitado na
Sua Igreja e através dela que contêm e efectuam aquilo que significam -, em
especial o da penitência (confissão ou reconciliação) e o da Eucaristia; e também
pela oração que sendo um colóquio ou conversa com Deus nos ensina a estar na
Sua presença, a escutá-Lo e a pedir-lhe tudo aquilo que é para nosso bem, em
particular o mesmo Bem que é o próprio Deus, que nos é dado no Espírito Santo. Mendicantes
de Deus suplicamos-Lhe como o pai do Evangelho que queria a cura de seu filho “Senhor,
eu tenho Fé mas aumenta a minha Fé”.
Como nos ensina S. Tiago, em
plena concordância com S. Paulo, a “Fé sem obras é morta”, de facto, como ele
adianta, fé sem obras também os demónios a têm e de nada lhes adianta. Como nós,
embora furiosos, sabem de cor e salteado o Credo. Por isso S. Paulo advertia
que a Fé opera (isto é, obra) pela Caridade, pelo Amor. Daqui que para
fortalecer, solidificar e revigorar a Fé importe muito a dedicação, a entrega
de si mesmo, a doação, daquilo que temos e daquilo que somos, aos outros. Esta
dádiva, cujo nome é amor, deve, nas palavras da Bem-aventurada Teresa de Calcutá,
outorgar-se até doer e assim continuar até deixar de magoar – é no abraço à
Cruz de Cristo, ou se quisermos, a Cristo Crucificado que encontramos nos mais
vulneráveis, pobres e desfavorecidos, que encontramos a Ressurreição. O
voluntariado da Caridade não consiste, no entanto, num mero bem-fazer filantrópico
mas sim num tornar “capilarmente” o próprio Cristo manso e humilde de Coração,
o Coração Sagrado do Amor que Se deixou trespassar pela cruel lançada para
jorrar sobre nós a Sua Misericórdia infinita.
Creio que nos dias de hoje importará
recordar que, não obstante, a enorme importância das obras de misericórdia
corporais há uma justa hierarquia que dá precedência ontológica às Espirituais
(com E maiúsculo), enquanto sobrenaturais, as quais aliás, bem vistas as coisas
são a fonte das primeiras. Não há duvidar que o menor dos dons sobrenaturais
supera imensamente o maior dos dons temporais ou naturais, como lembra S. Tomás.
Embora, como ensina S.
Boaventura, Jesus Cristo seja o Livro pelo qual devemos estudar, no qual tudo se
aprende, pois Ele é a própria Sabedoria, isso não exclui, antes, pede uma boa
formação intelectual ou, se quisermos, catecumenato doutrinal. Não é possível
que uma catequese indicada para crianças ou adolescentes seja suficiente para
dar resposta às questões e interrogações de gente madura, com novas
responsabilidades familiares e profissionais, com formação superior, dotadas de
uma alta cultura. Por isso, é necessário recorrer a bons livros, a retiros, a
sessões de formação, a um experimentado assistente espiritual para que possamos
conhecer “as razões da nossa Esperança”.
Que a Imaculada Virgem Maria Mãe
de Deus feito homem no seu seio, Sede e Mãe da Sabedoria, Ela, a Esposa do Espírito
Santo o qual é a Imaculada Conceição Incriada, que Se quis espelhar na Imaculada
Conceição Criada, feita, por Deus Medianeira de todas as Graças, nos alcance
uma Fé viva e firme, uma Esperança certa, uma Caridade perfeita e a Graça da
perseverança final.
14. 08. 2012