terça-feira, 14 de agosto de 2012

Algumas dicas sobre a Fé - por Nuno Serras Pereira

A Fé que acontece na Igreja e através da Igreja é sempre um encontro vital entre Jesus Cristo, Deus Filho feito homem, e cada pessoa concreta. Este dom ou Graça de Deus antecipa-se à nossa liberdade, suscita-a, acompanha-a, purifica-a e eleva-a tornando-a capaz de um assentimento e de uma adesão incondicionais e absolutos à Palavra de Deus, o Verbo feito carne, em virtude da Sua autoridade Divina, a qual por sê-La, não Se pode enganar nem nos pode enganar. Evidentemente que a Fé no Logos, no Verbo, na Palavra, na Razão eterna, incriada e Criadora, é dirigida somente a seres que Dela participam – pessoas humanas racionais criadas à Sua imagem e semelhança que verificam uma compatibilidade entre os dados da razão e a Fé que a vem purificar, aperfeiçoar e completar.

Viver a Fé será então consentir que o eu de cada um, por virtude do Espírito Santo, seja enxertado no Eu de Jesus Cristo entrando em Comunhão, com a Santíssima Trindade e com todos os eus que o Senhor chamou e acolheu em Si, de tal modo que possamos, com S. Paulo, dizer “já não sou eu que vivo mas é Cristo que vive em mim”. Este Eu de Jesus Cristo alargado a todos aqueles que em Si incorporou plenamente chama-se Corpo Místico de Cristo, isto é a Igreja.
Esta amizade com o único Deus Pai, Filho e Espírito Santo uma vez que é um dom tem de ser incessantemente implorada e alimentada. Esta nutrição e trato de amor incremental vêm até nós através dos Sacramentos - que são acções, por sinais, de Cristo Ressuscitado na Sua Igreja e através dela que contêm e efectuam aquilo que significam -, em especial o da penitência (confissão ou reconciliação) e o da Eucaristia; e também pela oração que sendo um colóquio ou conversa com Deus nos ensina a estar na Sua presença, a escutá-Lo e a pedir-lhe tudo aquilo que é para nosso bem, em particular o mesmo Bem que é o próprio Deus, que nos é dado no Espírito Santo. Mendicantes de Deus suplicamos-Lhe como o pai do Evangelho que queria a cura de seu filho “Senhor, eu tenho Fé mas aumenta a minha Fé”.
Como nos ensina S. Tiago, em plena concordância com S. Paulo, a “Fé sem obras é morta”, de facto, como ele adianta, fé sem obras também os demónios a têm e de nada lhes adianta. Como nós, embora furiosos, sabem de cor e salteado o Credo. Por isso S. Paulo advertia que a Fé opera (isto é, obra) pela Caridade, pelo Amor. Daqui que para fortalecer, solidificar e revigorar a Fé importe muito a dedicação, a entrega de si mesmo, a doação, daquilo que temos e daquilo que somos, aos outros. Esta dádiva, cujo nome é amor, deve, nas palavras da Bem-aventurada Teresa de Calcutá, outorgar-se até doer e assim continuar até deixar de magoar – é no abraço à Cruz de Cristo, ou se quisermos, a Cristo Crucificado que encontramos nos mais vulneráveis, pobres e desfavorecidos, que encontramos a Ressurreição. O voluntariado da Caridade não consiste, no entanto, num mero bem-fazer filantrópico mas sim num tornar “capilarmente” o próprio Cristo manso e humilde de Coração, o Coração Sagrado do Amor que Se deixou trespassar pela cruel lançada para jorrar sobre nós a Sua Misericórdia infinita.

Creio que nos dias de hoje importará recordar que, não obstante, a enorme importância das obras de misericórdia corporais há uma justa hierarquia que dá precedência ontológica às Espirituais (com E maiúsculo), enquanto sobrenaturais, as quais aliás, bem vistas as coisas são a fonte das primeiras. Não há duvidar que o menor dos dons sobrenaturais supera imensamente o maior dos dons temporais ou naturais, como lembra S. Tomás.

Embora, como ensina S. Boaventura, Jesus Cristo seja o Livro pelo qual devemos estudar, no qual tudo se aprende, pois Ele é a própria Sabedoria, isso não exclui, antes, pede uma boa formação intelectual ou, se quisermos, catecumenato doutrinal. Não é possível que uma catequese indicada para crianças ou adolescentes seja suficiente para dar resposta às questões e interrogações de gente madura, com novas responsabilidades familiares e profissionais, com formação superior, dotadas de uma alta cultura. Por isso, é necessário recorrer a bons livros, a retiros, a sessões de formação, a um experimentado assistente espiritual para que possamos conhecer “as razões da nossa Esperança”.

Que a Imaculada Virgem Maria Mãe de Deus feito homem no seu seio, Sede e Mãe da Sabedoria, Ela, a Esposa do Espírito Santo o qual é a Imaculada Conceição Incriada, que Se quis espelhar na Imaculada Conceição Criada, feita, por Deus Medianeira de todas as Graças, nos alcance uma Fé viva e firme, uma Esperança certa, uma Caridade perfeita e a Graça da perseverança final.

14. 08. 2012