Andava o mundo sugestionado, e
com ele altos dignitários da Igreja, com o magnetismo do diabo e os engodos dos
controladores demográficos, seus sequazes, quando um homem débil se ergueu
majestoso, e fazendo do seu cajado uma funda, nela colocou um escrito que arremessou
com determinação ao colosso. Este, que já rejubilava seguro de uma vitória retumbante,
subitamente paralisou; os olhos ficaram turvos e esgazeados; a boca que
gargalhava, retorcida; as pernas, convulsas; o rosto antes vermelho, agora
pálido com um rubor líquido na testa. Aquela fortaleza firme e maciça num
repente esbarrondou-se com enorme fragor. O Profeta, lançando a sua encíclica Humanae
Vitae[1] derrotou a besta monstruosa, mas esqueceu-se de usar
a espada, a Palavra de Deus, para o descabeçar, de modo que enquanto a fera
descomunal não morreu vieram os cientistas tecnocratas que apressuradamente o
mutilaram roubando-lhe o saco das suas sementes. Daí que, uma vez lançadas, em
laboratório, no seio da grande meretriz eclesial, tenha proliferado
desmarcadamente a sua descendência. Quando dignitários da Igreja se prostituem
com Satanás e os seus discípulos engendra-se uma prole de víboras letais com
aparências de Arcanjos benignos solícitos da nossa felicidade. Daí, em
grande parte, a situação tremenda em que nos encontramos.
Em Portugal, não se trata de uma
acusação mas de uma verificação, o Episcopado (não existia então, providencialmente,
a Conferência Episcopal nos termos em que ela tem funcionado) elaborou um
documento notável de total assentimento ao ensino do sucessor de S. Pedro e
Vigário de Cristo. Porém, em pouco tempo, o “departamento” para a doutrina da
Fé do Patriarcado de Lisboa fez publicar uma Nota extremamente ambígua que
“justificava” a contracepção, fazendo da consciência e não da Verdade, transmitida pelo
Magistério, o critério último. Daqui a cada católico entender que neste aspecto
poderia e deveria guiar-se pela sua opinião não foi mais do que um brevíssimo
passo. Rapidamente, todavia, o dissentimento se alargou a praticamente tudo
quanto o Magistério declarasse, uma vez que cada um soberanamente decidia o que era a verdade.
Não se pode escamotear o facto, a
todos os títulos louvável, da criação de um movimento dedicado à difusão dos
então chamados métodos naturais de planeamento familiar. No entanto,
infelizmente, um Bispo auxiliar de Lisboa, naturalmente com a concordância do
Senhor Patriarca daquele tempo, com a colaboração activa de alguns Padres e
leigos ignorando orgulhosamente os avisos explícitos em contrário de gente
muito bem informada introduziram em Portugal a APF/IPPF.
Esta organização destruidora da inocência das crianças, dos casamentos e das
famílias, bem como serial killer de pessoas nascituras, num instante tomou
o poder e, numa escalada vertiginosa, foi escravizando, deputados, governos e
presidentes da república que submissamente foram introduzindo e financiando
criminosamente, com o dinheiro dos nossos impostos, a contracepção,
inclusive a abortiva,
a procriação
artificial que em média sacrifica 9 pessoas nascituras por cada nascimento.
Neste entretanto, muitos prelados
e demais clerezia colaboracionistas, tantas vezes em nome da tolerância e da
compaixão, ou mais diplomatas que Pastores, ou cães mudos, assistiram, ou
cumpliciaram-se avidamente, impávidos e serenos, ao implantar-se de uma
sociedade deformada, produzida por estes desvios sobre-horrendos, que pariu
divórcios em série (separação da unidade irrevogável entre marido e marida -
sic, não é gralha); mães solteiras (destacamento dos filhos dos pais); fragmentação
da família (despedaçamento dos alicerces sociais); aborto
(excisão da mãe e dos filhos); pobreza, (consequência do estilhaçamento
familiar); introdução coacta, por ideologia ou necessidade, das mulheres no
mundo do trabalho a tempo inteiro (desvalorização brutal da maternidade); desamparo
dos idosos (cisão entre gerações) despejados em lares; enjeitamento das
crianças descarregadas, por tempos infindáveis em infantários e ATL’ s (disjunção
da saúde e dos pais); contracepção, qua anticoncepção, induzida em nome da
saúde (escaqueirar-se da união e esterilização do amor); procriação artificial
(apartamento dos filhos da entrega total, corpo e alma, de marido e mulher e
fabricação ou produção, gravissimamnte injusta dos mesmos por técnicos); homossexualidade
crescente e invasiva (dissolução da reciprocidade e negação da alteridade entre
homem e mulher, invertendo a humanidade da pessoa); ideologia
do género (pulverizando a identidade pessoal) etc., etc.
Mas afinal a que vem o título
deste texto? Quem são os tais visionários cegos?
É bem de ver que não poderia
entrar de supetão indicando-os. Mesmo agora, apesar deste longo exórdio (tendo
em conta outros textos para que remeto seleccionados, aliás, com a máxima
restrição, pois a quantidade da informação é inumerável) sei que serei
ferozmente condenado no tribunal da mentalidade dominante. O que devo confessar
muito me alegra se isso me ajudar (como espero, assim Deus o queira e o
permita) a conformar-me algum pouco com Jesus Cristo.
Enquanto a mim, não sendo os
únicos mas sim os que mais me preocupam, são os Prelados que antevendo,
visionariamente, algumas consequências não quiseram ver as causas e o essencial
mas preocuparam-se tão só de ir respondendo ao que ia surgindo, antecipando
problemas maiores – por isso cegos mais que cegos porque vendo não viam, pois
não queriam ver. É inegável que com uma abundantíssima generosidade têm
acorrido aos velhinhos,
quer fundando lares, quer pelo apoio domiciliário prestando cuidados de
higiene, de saúde e alimentares. É, de facto, impressionante a mole copiosa de
católicos quer nas Paróquias quer em instituições como as Misericórdias e as
IPSS’ s que se entregam com um amor exuberante ao próximo. E o mesmo se poderá
dizer dos berçários, infantários e ATL’ s.
Perguntar-me-ão, porventura, que
mais se pode fazer. E eu respondo que se pode e deve obrar muito mais, e que
não se devia ter traído a Sagrada Escritura, nem a Tradição da Igreja, nem o
Magistério, nem a família, nem a pessoa humana. Porque se assim tivesse sido
não teríamos a desgraça que caiu sobre nós, como se a ira de Deus, aquela
cólera entranhada do Amor Supremo, que detesta o mal e o pecado, se tivesse
abatido sobre nós. De facto, uma vez que Lhe virámos obstinadamente as costas,
endurecendo os nossos corações, trancando-Lhe sistematicamente a porta sempre
que Ele batia, deixou-nos entregues a nós próprios, e nós alarvemente tentámos
erguer uma nova Babel que acabou por se desmoronar, desabando sobre nós,
assolando a nação, devastando Portugal, depopulando o povo.
Os sociólogos e demógrafos são
quase unanimes em considerar que um povo, um país, que se mantêm algum tempo
com a taxa de natalidade em 1. 2, praticamente perde a capacidade de subsistir.
Nós estamos em 1. 3, e prevê-se um decréscimo
de nascimentos da ordem dos 20%, que acelarará a queda no abismo.
Tivesse a Igreja em Portugal sido
fiel, pregando, catequisando, sacramentando, formando, admoestando, exortando,
anunciando e denunciando, conforme à vontade do Seu Senhor, sem que uma enorme
parte dos seus eclesiásticos se vendesse, ou se deixasse hipnotizar pelo poder,
pela riqueza e pela vaidade da fama, e teríamos famílias inteiras, avós, pais e
netos presentes uns aos outros em acolhimento, harmonia e comunhão. A
natalidade seria elevada garantindo a criatividade
e a inovação, a defesa, o bem comum, a saúde, o crescimento económico, a
segurança social, etc.
Acorrer agora à desgraça de que
fomos cúmplices é melhor do que nada. Mas é necessário reconhecer o nosso
pecado monstruoso e dele nos penitenciarmos, abrindo-nos à conversão,
implorando a Misericórdia de Deus enquanto vivermos, uma vez que com a morte
certa e imprevista fica selado o nosso destino eterno: Céu ou Inferno para
sempre. Sempre. Sempre. Sempre.
Dêmos Graças a Deus porque tem
providenciado uma nova geração de Sacerdotes e de Fiéis Leigos acolhedores do
Seu Espírito e seus cooperadores, que destemidamente, com uma Caridade
verdadeira, uma Misericórdia genuína, e uma Compaixão autêntica, armados de um
amor intenso à Imaculada Virgem Maria Mãe de Deus humanado, à Eucaristia, ao
Santo Padre e da Teologia
do Corpo do Beato João Paulo II, se entregam servindo sinceramente a maior
Glória de Deus e o maior Bem de cada pessoa humana, em todas as fases da sua
existência, desde a concepção até à morte natural.
Tão longe foi a calamidade que
com um grau enorme de probabilidade estaremos destinados aos calabouços e mesmo
ao martírio, se não na minha geração na que nos sucederá. A menos, claro, que
Jesus Cristo pelo Seu Espírito, que vem a nós através da Virgem Maria, Senhora
de Fátima, opere um portentoso Milagre para nos Salvar.
Suponho, talvez erradamente, que
os leitores habituais das minhas elucubrações, já enfastiados, se não mesmo
adormecidos em cima do teclado do computador, se perguntarão - ou porventura
sonharão pesadelos interrogativos -: mas este casmurro testaçudo não poderia e
deveria escrevinhar sobre outros assuntos deixando de lado esta obsessão maníaca?
Arre!, que é demais.
Há alguns anos atrás enquanto transportava
o Monsenhor Michel Schooyans para
um congresso organizado pela associação dos
médicos Católicos portugueses a certa altura, como viesse a propósito,
disse-lhe que muitos Sacerdotes me acusavam de não falar de outra coisa senão
destes assuntos. Ao que ele retorquiu, pois continue até eles começarem periodicamente
a versar esses temas; quando são raros os que ensinam alguém terá de teimar. Poderá,
acrescento eu, vir a ser detestado mas a semente há-de germinar. Prelados
eminentes, varões de grande virtude e santidade (santidade e virtude que eu também
poderei vir a alcançar, caso os meus leitores e amigos rezem muito e se
sacrifiquem por mim; afinal nada é impossível à Omnipotência Divina) foram alvo
de grandes escárnios e chacotas pela sua extrema pertinácia no servir e pregar
sobre os pobres, e hoje são venerados nos altares, apresentados como modelo aos
Fiéis, tidos como poderosos intercessores junto Àquela Beneficência infinita
que Se regozija e deleita em tornar os Seus amigos participantes das Sua mercês,
inspirando-os a impetrarem as Suas Graças em nosso favor.
Segundo a Beata Teresa de Calcutá,
que toda a vida se doou totalmente aos que padeciam de grande pobreza, de enfermidade,
de velhice e aos moribundos, há uns, de quem ela também muito cuidou, que são
mais pobres que esses pobres, que são paupérrimos, misérrimos, a saber, os que
não conhecem nem amam a Jesus Cristo e as crianças nascituras.
13. 11. 2012
[1] Não translado aqui a
ligação para o sítio do Vaticano onde se encontra esta Carta em português
porque a tradução, sendo deplorável, torna incompreensível o ensinamento ful cral do
Papa Paulo VI.