In «Correio dos Açores», 17-XI-2013
Os Meios de Comunicação Social estão a acompanhar um PREC
(Processo Revolucionário em Curso) no Vaticano. Quase todos afirmam que o Papa
Francisco está a ganhar a revolução, embora a situação ainda seja confusa.
Neste momento, é absolutamente certo que muita gente, fora e dentro da Igreja, está
profundamente abalada com os primeiros meses de pontificado.
Há dias, o Papa Francisco dizia ao Conselho Pontifício
para a Nova Evangelização que, para fazer chegar este anúncio «a tantas pessoas
que se afastaram da Igreja, é um erro culpar uns ou outros; sobretudo, não é
altura de falar em culpas. (...) A nova evangelização, ao mesmo tempo que chama
à coragem de avançar contra-corrente (...), só pode usar a linguagem da
misericórdia». Francisco repete isto continuamente — para pavor de uns e
surpresa de quase todos.
Alguns pró-vida norte-americanos irritam-se, porque o
Papa não desmascara os abortistas ou propagandistas homossexuais que começaram
a mostrar simpatia pela Igreja. Os apoiantes de Mons. Marcel Lefebvre protestam
contra as recentes canonizações de mártires, porque o Papa não achou necessário
referir que os assassinos eram muçulmanos...
Ao mesmo tempo, chegam elogios das origens mais
improváveis. Até entre nós. O colunista Daniel Oliveira, habitualmente hostil, reconhece
que se sentiu tocado pelo que ele chama «a reenvangelização benigna de
Francisco» (5 de Novembro, no «site» do «Expresso»). Até se desculpa: «dirão
que, sendo eu ateu, nada que diga respeito à Igreja Católica e ao Vaticano me
deveria interessar grandemente. Mas interessa-me muito». Daniel Oliveira não
tem ilusões acerca da doutrina, «o que é novo neste Papa não são as suas
posições», mas percebe que algo se passa: «a postura deste Papa pode vir a ser
um terramoto» e, de argumento em argumento, deixa-nos sem palavras: «Por mais
estranho que vos pareça, não considero, por isso, negativo que a Igreja
Católica (...) recupere, na Europa e na América do Norte, um pouco do poder que
perdeu». Como a doutrina da Igreja não muda, ele não acredita que a Igreja se
transforme «no que ela não pode, por natureza, ser (...). Mas [o Papa] cria
pontes mais sólidas entre ela e as sociedades democráticas. E são essas pontes
que poderão contrariar a sua decadência no Ocidente». Um ateu a dizer ao mundo
que preste atenção à voz da Igreja?! Desejoso de contrariar a sua decadência no
Ocidente?! Quando Daniel Oliveira vê aspectos positivos na Igreja católica, já
não sei se concordo com ele ou não. Ele próprio não sabe bem se concorda com o
Papa ou não. Mas claramente algo mudou e estamos a assistir àquela
reevangelização pacífica, benigna, como lhe chama Daniel Oliveira.
Para o Papa Francisco, o centro desta pastoral da
misericórdia é o sacramento da confissão. Aí é que se trava a suprema batalha
entre a inércia do mal e o abraço de Deus.
Nalguns países, a descoberta da confissão foi uma coisa
tão súbita e tão profunda que teve honras de jornais e lançou em campo os
especialistas das sondagens. Já se fizeram duas: uma nos primeiros meses de
pontificado e outra mais recente, para ver se o fenómeno estava a abrandar. Só
em Itália, registaram-se «centenas de milhar de conversões directamente
relacionadas com os apelos do Papa Francisco». E na segunda sondagem o ritmo
não diminuiu. «Um efeito maciço e até mesmo espectacular», segundo Massimo
Introvigne, director da equipa de sondagem.
Este Papa não gosta de fugas: «Alguns dizem: “Ah,
confesso-me com Deus”! É fácil, é como confessar-se por email, não é? Deus lá
longe, eu digo as coisas e não há um face-a-face, não há um olhos-nos-olhos».
Vergonha? — «Envergonharmo-nos perante Deus é uma graça».
«O cristão deve lidar com o seu pecado de uma forma concreta, honesta, e ter a capacidade
de se envergonhar perante Deus, de pedir perdão e se reconciliar confessando os
seus pecados».
Há dias, a Santa Sé enviou aos bispos um exame de
consciência, acerca da pastoral familiar, pedindo-lhes para responderem se são
corajosos a propor a doutrina da Igreja, se o fazem com todo o respeito e
simpatia para com as pessoas, se as famílias cristãs rezam suficientemente, se têm
uma mentalidade saudavelmente aberta à natalidade... Não está fácil ser bispo.
Segundo o Papa, a conversão é já. A revolução é para
ontem. E o Papa não quer ninguém de fora.