quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Dez Anos em Defesa da Vida e da Família


Pedro Vaz Patto


A propósito de uma minha tomada de posição pública contra a redefinição do conceito jurídico de casamento de modo a nele incluir uniões entre pessoas do mesmo sexo, verifiquei, com algum agrado, que um grande número de meus colegas que comigo abordaram a questão, independentemente das suas convicções religiosas, aderiam claramente a essa minha posição. Concordavam com o que lhes parecia ser um imperativo do simples bom senso e uma medida de salvaguarda de um precioso legado civilizacional. Mas – diziam também vários deles - «infelizmente, é apenas uma questão de tempo». Queriam dizer com isto que não vale a pena remar contra a maré, que há dinâmicas irreversíveis ditadas pelo “ar do tempo” e que, mais cedo ou mais tarde, todos teremos de aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A mim, parece-me que só será “una questão de tempo” se nós, que muitas vezes somos a “maioria silenciosa”, quisermos, e se nos demitirmos de actuar, fazendo o que está ao nosso alcance para defender esse legado civilizacional.


Provindas de pessoas com autoridade nos planos político, académico ou profissional (não se trata de ficção, nem de excentricidades), já se discutem em vários países propostas como estas: a legalização do infanticídio de crianças deficientes, a quem não poderia ser reconhecida a dignidade de pessoas, por terem capacidades intelectuais inferiores às de outras espécies animais; a legalização da eutanásia de crianças e deficientes (não voluntária, portanto); o abortamento de fetos deficientes já não apenas como direito, mas também como dever fundado no “fardo social” que eles pretensamente poderão representar; a redefinição o próprio sentido do direito da família, que deixaria de apontar para um modelo institucional baseado num compromisso monogâmico e tendencialmente duradouro para se abrir em pleno à liberdade contratual e a todo o tipo de modelos, onde caberiam os “casamentos a prazo” ou sem dever de fidelidade, a poligamia ou o “poliamorismo”; a legalização da prostituição como única forma de satisfazer os direitos de satisfação sexual das pessoas deficientes, etc.



Diante destas propostas, a reacção espontânea da generalidade das pessoas é hoje de repulsa, como há não muito tempo era de repulsa a reacção da generalidade das pessoas diante de propostas que hoje parecem já não escandalizar ninguém e que quase se torna difícil até discutir.


Em relação a estas, como a muitas outras propostas, também se poderá dizer que será “uma questão de tempo”, que elas acabarão, mais tarde ou mais cedo, por não escandalizar ninguém, se, fatalisticamente, nos demitirmos de fazer o que está ao nosso alcance para proteger aqueles bens civilizacionais que nos habituamos a desfrutar sem a consciência de que também podem ser perdidos (como quem só dá valor à saúde quando está doente).


Vem tudo isto a propósito dos dez anos da Infovitae, uma iniciativa que acompanho quase desde o seu início e que muito tem feito para que não nos deixemos arrastar pelo “ar do tempo” e possamos salvar esses bens. Por isso, um voto de louvor é devido. Os seus frutos não se medem pelos sucessos políticos imediatos, mas pelo esclarecimento das consciências, que actua em profundidade e no longo prazo.


Mas será que estamos condenados apenas a salvar aquilo que corre o risco de ser perdido, apenas a denunciar males cada vez mais tenebrosos, a “jogar sempre à defesa”? Não haverá espaço para actuar mais pela positiva, exaltando e promovendo a beleza dos valores da vida e da família? Estes valores são muito mais preciosos do que quaisquer modelos tradicionais (que têm méritos, mas também limites) e ligam-se ao desígnio do amor de Deus pela humanidade.


Penso que tem sido este o esforço admirável do Papa Bento XVI. Talvez possa ser este um desafio para todos nós, a começar por mim, leitores e amigos da Infovitae, e para os próximos dez anos.