quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Nascimentos Delongados - Nuno Serras Pereira

O amor que se multiplica atrai as bênçãos do Céu e uma particular benevolência da Providência Divina. Deus, de facto, não se deixa vencer em generosidade e quando parece que até o necessário faltará ao empreender-se uma nova obra de misericórdia eis que surge, como por milagre, não só o indispensável como também o conveniente. E há medida que a pessoa se entrega, dando-se sem reservas, o amor nela se fortifica por uma especial afinidade com a Vontade de Deus de cuja Omnipotência de Amor passa a participar. Daí que os estorvos inultrapassáveis, os impossíveis do mundo, para quem vive na Caridade (amor) que brota da Fé, se transformem em facilidades ligeiras, como uma Cruz em que nos estendemos nas tormentas desta vida e que nos salva do naufrágio. 


Todos nós sabemos que existem nascimentos atempados e outros que são prematuros. O que provavelmente muitos ignorem é que existem também nascimentos venturos. Ainda ontem recebi uma mensagem de um casal com cinco filhos comunicando-me o parto de um novo rebento com dois anos e meio de idade. Em tempos em que as crianças nascituras são tantas vezes vistas como inimigos a abater e as portadoras de deficiência olhadas com um horror homicida, sendo raríssimas as que não são exterminadas antes de verem a luz do dia, esta família adoptou, ou pariu, um novo filho com trissomia 21. Dois dias antes, um outro casal com quatro filhos anunciou-me que dentro em pouco receberiam um novo filho de três anos, também ele com algumas debilidades psíquicas, embora diferentes da do anterior. E podia continuar desfiando histórias semelhantes que tenho vindo a conhecer ao longo de anos. Mas dado o perigo de enfastiar os leitores com um texto longo adianto somente o seguinte: a enorme maioria das famílias que se resolvem a adoptar crianças órfãs ou abandonadas são as numerosas, as que já têm uma ranchada de filhos; grande parte delas escolhe adrede as mais débeis e enfermas; e não são gente rica mas remediada. Ah!, já agora, só mais este dado, um casal com sete filhos e seis filhas adoptou também um rebento, já lá vão alguns anos.

É uma verdade irrefutável que quanto mais damos e nos damos a Deus mais recebemos, e recolhemos sempre muito mais do que entregamos. 

À Honra e Glória de Cristo. Ámen. 

08. 11. 2012