Ao analisar o processo de
eleição de um novo Papa, deparamo-nos com características que distinguem
nitidamente esse processo de um análogo em qualquer outra instituição humana.
Essas incomparáveis características reforçam a fé de quem crê na assistência
divina prometida por Jesus Cristo à Igreja que fundou.
Essa assistência certamente não tornou a Igreja Católica
imune aos pecados dos seus membros, mesmo ao mais alto nível. A história dos
Papas em várias épocas contém inúmeros motivos de escândalo. Mesmo assim a
Igreja sobreviveu (como nenhuma outra instituição humana sobreviveria), não
deixou de proclamar a integridade da doutrina que muitos dos seus
representantes contradiziam com o seu exemplo, e não deixou de gerar no seu
seio frutos de santidade, mesmo nas épocas mais escuras. É nisto que reside a
assistência divina, não na ausência de pecado dos membros da Igreja. Assim é
também hoje, em que também não faltam motivos de escândalo e
contra-testemunhos, mas também não faltam frutos de santidade. Entre frutos
estão agora as vidas dos últimos Papas, alguns deles já beatificados (João XXII
e João Paulo II) e outros a caminho de o serem (Pio XII, Paulo VI e João Paulo
I).
Na eleição de um novo Papa reconhecem-se diferentes
sensibilidades, desde logo porque a universalidade da Igreja também não tem
paralelo noutras instituições. A comunhão é, porém, mais forte do que essas
diferenças. Exige-se a aprovação de dois terços do colégio eleitoral, mas,
depois, a adesão acaba por ser unânime e qualquer luta de fações não deixa
rastos depois da eleição. Também esta é uma característica inédita, que nem
sempre a comunicação social sabe colher, quando aplica aqui os critérios de
análise próprios das outras instituições e da política em geral.
Outro sinal distintivo da forma como na Igreja se dá a
sucessão do seu mais alto responsável é o da perene juventude desta instituição
milenária. A alegria e a esperança que acompanham a eleição de um novo Papa
(que exprime o grito jubiloso do Habemus
Papam e as emoções e aplausos que se lhe seguem) também não têm paralelo
noutras instituições.
As esperanças de mudança e novidade são, com frequência,
mal interpretadas. Isso dá-se quando se criam expectativas de ruptura, que depois
inevitavelmente se frustram. As novidades que pode trazer um novo Papa nunca
poderão afectar o depósito da fé, isto é, aquele tesouro que ela tem por
missão guardar e transmitir aos
vindouros. E mesmo aqueles aspetos que podem mudar, porque não fazem parte
desse tesouro, nunca o serão pela cedência aos critérios facilitistas da
cultura dominante. O critério de mudança há-de ser sempre o da fidelidade ao Evangelho,
não o da cedência a essa cultura. De resto, as comunidades cristãs não
católicas que têm feito opções nesse sentido não têm mais “sucesso”, antes pelo
contrário. A Igreja luterana sueca (que até já aceita o casamento entre pessoas
do mesmo sexo), todos os anos vê um número apreciável de fiéis aderir à Igreja
Católica ou a comunidades pentecostais que seguem orientações diferentes. Não,
a novidade não passa por aí (de resto, nem seria grande a novidade, pois se trataria
antes de um seguidismo).
Um novo Papa não contradiz o anterior, mas também não o
repete e não cessa de nos surpreender. Foi assim com João Paulo II em relação
aos que o precederam. E foi assim com Bento XVI, muito diferente da imagem que
dele havia sido construída, tão próximo do seu antecessor, mas também tão diferente
dele, diferença que se sentiu até no modo como terminou o seu ministério.
O Papa é instrumento de um Deus que «faz novas todas as
coisas» (Ap. 21, 5), de uma mensagem cuja riqueza não se esgota, um tesouro de onde
continuamente saem «coisas velhas e novas» (Mt 13, 52), cuja beleza ainda não
descobrimos na sua plenitude.
Seja ele europeu ou não, mais ou menos jovem, mais ou
menos intelectualmente brilhante, mais ou menos empaticamente comunicativo,
será sempre com alegria e esperança que os católicos acolherão o novo Papa.