quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Debates

O Dr. Pedro Líbano Monteiro, não o antigo quadro do BCP mas um seu parente, costumava em 1997-1998 aconselhar aos membros dos grupos pró vida que não fossem a debates sobre o aborto, mas que propusessem como alternativa, aos meios de comunicação social que os convidassem, entrevistas em separado dos oponentes. Se bem me recordo as razões que apresentava eram as de que durante as disputas havia grande alarido e muita confusão, não se conseguindo discorrer verdadeiramente nem verbalizar qualquer coisa que tivesse princípio, meio e fim. As interrupções contínuas, os ataques e contra-ataques cerrados, as astúcias dos opositores, a parcialidade dos entrevistadores, mascarada de neutralidade, o nervosismo, etc., tudo conspirava contra a racionalidade e uma apreciação serena e lúcida das questões e dos factos.

Aquando do último referendo sobre o aborto foi patente o uso e abuso das controvérsias televisivas como recurso, por parte de agências de comunicação a mando dos abortófilos, para enfraquecer e ridicularizar as posições favoráveis ao amor e à vida. Creio que seria aconselhável que os pró vida revissem as gravações desses programas para aprenderem com os erros que cometeram, não obstante a enorme boa vontade e coragem. Agora sem a pressão do acontecimento é fácil perceber os erros que cometeram, bem como as falácias, truques e sofismas a que os abortófilos recorreram. Muitos destes têm preparações específicas, exigentes, profissionais para este tipo de discussão enquanto os pró vida são puramente, no sentido nobre da palavra, amadores.

Acresce que estas polémicas, sobre questões apelidadas de fracturantes, partem sempre de pressupostos favoráveis àqueles que estão empenhados em subverter os valores vigentes, alicerçados na lei moral universal. Os instrumentos forjadores ou, pelo menos, veiculadores desse quadro mental constituído por preconceitos perniciosos e perversos são habitualmente os meios de comunicação social. De modo que o simples facto de alguém neles aparecer para disputar qualquer coisa que se oponha a esse contexto fabricado, e veiculado mais ou menos subliminarmente através de todo o tipo de programação, fá-lo surgir aos olhos dos espectadores ou ouvintes como uma excentricidade retrógrada e inimiga da liberdade e da felicidade das pessoas. Acresce que o próprio, intuindo de algum modo isso mesmo, exerce uma férrea auto-censura sobre o que diz, admitindo tacitamente como base da discussão princípios inaceitáveis, mas que ao serem implicitamente adoptados ou, ao menos, não refutados representam uma derrota anunciada.

Por isso, terá razão o Dr. Miguel Alvim ao insistir que se recusem debates sobre certas matérias. A alternativa será conceder entrevistas em directo caso seja na rádio ou na TV e por escrito quando se trate de jornais. O directo deve ser exigido para evitar montagens tendenciosas; e a entrevista por escrito para impedir que o jornalista em vez de transcrever o que a pessoa disse coloque na sua boca a interpretação que ele faz das palavras do entrevistado. Quanto ao mais, evangelização, catequese, sessões de esclarecimento, etc.

Nuno Serras Pereira
12. 11. 2008