As lojas e a economia contam com o Natal para amaciar a recessão. Se as despesas festivas forem significativas, então este ano das três crises, energética, alimentar e financeira, poderá acabar menos mal do que se temia.
É curioso, quase incrível, que as nossas esperanças comerciais estejam depositadas no aniversário do nascimento d'Aquele homem que disse: «Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus» (Mt 5,3). É espantoso que as soluções económicas passem pela festa de Quem afirmou: «Não vos preocupeis com o que haveis de comer ou beber (...) Buscai antes o Reino dos Céus e o resto vos será dado por acréscimo» (Lc 12, 29-31). Mas, se virmos bem, isto é normal. É exactamente o que aconteceu há 2008 anos, e em todos os anos desde então.
Quando passava o burro com a Senhora grávida e S. José, cada um tratava da sua vida, e só se interessava pelos viajantes para se aproveitar deles. Na crise criada pela decisão romana do recenseamento, aqueles forasteiros eram uma oportunidade de negócio. Cristo, ainda por nascer, já era tratado como hoje nas montras ou no meio das filhoses. De toda aquela gente, que todos os sábados nas sinagogas era preparada para aquele momento supremo, ninguém se interessou por Ele.
Ninguém, a não ser os mais miseráveis entre os miseráveis, os pastores sem-abrigo que viviam nos campos. Aqueles que eram pobres foram os bem-aventurados. Aqueles que mal tinha de comer, de beber, de vestir foram alimentados e vestidos como as aves do céu e os lírios dos campos. No ano das três crises, com quem nos identificamos?
João César das Neves
DESTAK 18 12 2008