quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Quando o Céu desce à Terra

Ontem à noite na Igreja de Santa Maria de Belém, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, um povo de crentes, cheio de fervor e devoção, com grande confiança e humildade, adorou a Jesus Cristo Ressuscitado, solenemente exposto no Sacramento, meditando os mistérios dolorosos da Sua vida terrena, na companhia da Virgem Santíssima, Sua e nossa Mãe, a quem, rezando o rosário, entregámos as nossas instantes súplicas para que, pela plenitude de graça da Sua Conceição Imaculada, pela Sua excelsa Maternidade Divina e pela limpeza do Seu coração sem mácula, nos alcançasse com a Sua poderosíssima intercessão o favor de Seu Filho, nosso Salvador, para que amanhã, dia em que A celebramos, com o nome de Nossa Senhora de Lurdes, opere o milagre prodigioso do triunfo da vida.

Na oferenda do Sacrifício mais que Santíssimo agradecemos jubilosamente todas as graças recebidas ao longo destes anos e em especial neste período de empenho mais intenso. Levámos ao altar os nossos sacrifícios, o nosso tempo, a nossa dedicação, conscientes de que tudo isso nos foi dado, para que o Sumo-sacerdote, os elevasse e aperfeiçoasse entregando-os ao Pai de todas as misericórdias. No Coração Sacratíssimo da Vítima, depositámos os nossos limites, as nossas fraquezas, as nossas incapacidades, os nossos pecados, para que branqueados pela água e pelo sangue fossemos purificados pelo Deus de todas as consolações.

Alguns cânticos caídos do Céu, uns murmúrios sobrenaturais, uns silêncios transbordantes, uma paz transcendente, uma pregação vibrante, uma comunhão misteriosa, um sossego confiante, uma petição solene, uma consagração maravilhosa, uma infusão de Vida, um acolhimento inteiro, uma entrega total, um ser movido por uma Luz, arrebatado por Amor, conduzido por Outro.

Quem pode dizer a Beleza dessa vigília Sagrada, se não há palavras humanas que a descrevam? Essa Beleza que logo se repartiu e incendiou por tantos sítios de Portugal, em orações e jejuns continuados, num fogo de amor que brilhará toda esta noite até à abertura das mesas de voto.

Bendito seja Deus que suscita tantas almas generosas para O servir, tantas vocações providenciais que O reparam de tantas ofensas, que não se poupam impetrando sem tréguas por aqueles mesmos que os atacam e odeiam e que não desistem de se doarem generosamente aos seus irmãos concebidos ainda não nascidos, às mães em provação e a todos os demais que padecem necessidades na alma ou no corpo.

Nuno Serras Pereira
10. 02. 2007