terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Eu Vi uma Sentinela Vigilante

Eu, Nuno, servo menor, movido pela Palavra de Deus estava ao computador quando no ecrã surgiu Portugal mergulhado numa nuvem soturna, espessa de negrura. E uma voz disse-me: quis por Minha Mãe dar-vos a paz, à vossa pátria enviei o Meu servo, ferido de morte mas salvo, revelando o mistério, advertindo contra o “jogo do Dragão enganador”. Mas vós endurecestes os vossos corações e tendes as mãos manchadas de sangue inocente.

Não suporto as vossas peregrinações, abomino os vossos sacrifícios, a vossa vida eclesial causa-me náuseas, porque os vossos pensamentos são de morte, os vossos caminhos são fúnebres, as vossas acções macabras; tendes como pai o Mentiroso que é homicida desde o princípio. Purificai-vos, lavai as vossas mãos, convertei os vossos corações, mudai os vossos pensamentos e as vossas acções. Eu Sou o Senhor, o vosso Criador e Redentor.

E a nuvem tomou a forma de urnas onde uma multidão depositava, depois de os ter mergulhado em tinas cheias de um viscoso líquido rúbido, papelinhos assinalados cada um com o seu x; no fundo das urnas havia uma vermelhidão de fogo, e do fogo saíam sevandijas peçonhentas em brasa, aclamadas por fumegantes avantesmas horrendas; e na nuvem formou-se um semi-círculo cheio de pessoas sagazes, astutas e manhosas que estavam penetradas por esses vermes imundos; e davam gritos espantosos, fazendo carantonhas medonhas, espumando rancores, vomitando e aprovando cousas execráveis, assombrosas pela sua perfídia e infâmia.

Do Céu surgiu, então, a Mãe, o seu nome era Ó, de semblante luminoso, figura sublime, aspeito esplendoroso. Na assembleia levantou-se um alarido colérico, soou um bramido portentoso, um urro formidável, rugido lúgubre, uivo rouco de ódio assanhado. Contra a Mulher, raivosos, arremessaram espirais, pílulas, frios instrumentos cirúrgicos de aço, seduções, injúrias, impropérios, frenesins.

Fez-se breu e houve um grande silêncio mudo, de uma frialdade tumular, álgido como um sepulcro. Suspeitou-se um vagido taciturno, depois outro, e ainda outro, e muitos, sucessivos, intermináveis. Gentes sinistras acarretavam, em contentores de lixo, incontáveis bebés escangalhados, despedaçados, desmembrados, estrafegados, decepados, queimados, estorcegados e, convulsivas, arrojavam-nos com ímpeto para fornos, incineradoras e laboratórios. Ouviu-se então um veemente clamor arrepiante... Era uma multidão incontável de mulheres afogadas em lágrimas, gemidos e lamentações que vozeava inconsolável porque os filhos extirpados de suas entranhas já não existiam.

Debulhado num pranto, rios de água correram de meus olhos e considerei: eis aqueles que ninguém quis amar. Então, num sobressalto, espavorido bradei: Ai! Ai! Ai!. Ai de mim que sou um homem de coração empedernido! Ai de mim que a minha culpa é máxima! Ai de mim que me cumpliciei neste inferno - por indiferença, por preguiça, por covardia!

Então, apareceu um anjo, o seu rosto resplandecia de ourama, brandindo uma espada de dois gumes vozeirou: Oração! Penitência! Conversão!. Oração! Comunhão! Acção!. Oração! Justiça! Amor!. E com a espada apontou um mar alteroso de fogo violentíssimo onde monstruosas lavaredas vorazes açoitavam e carcomiam gentes contorcidas de dor, espasmódicas de aflição, agonizantes de amargura, atormentando-as com penas de angústia e terror. Entanto, o Dragão enganador, a Serpe sedutora, soltava convulsivamente estrepitosas e estridentes gargalhadas prazenteiras de escárnio. Era uma visão de grande susto e pavor. E o anjo bradejou: estes são aqueles que da morte dos inocentes fizeram a sua vida!

Tudo desapareceu num repente. Ouviu-se, então, um coro infinitamente suave, de uma harmonia inefável. Banhados por uma luz jubilosa esvoaçavam, exultando de alegria, imensidades de pequeninos anjos rodeando anjos maiores; e eram exalçados por arcanjos, profetas, apóstolos, mártires, virgens e confessores que clamavam: estes passaram pela grande tribulação, partilharam os tormentos do Cordeiro! Honra, louvor e glória ao Nosso Deus e Senhor Jesus Cristo, O que estava morto e agora vive.

Então, prostrando-me por terra exclamei: Ai de mim, que estou condenado porque sou um homem de alma tíbia! Mas uma Potestade me ergueu, uma Virtude me amparou. Então um Querubim e um Serafim voaram na minha direcção; o Querubim derramou-me água sobre cabeça e afirmou: os teus pensamentos são purificados, a tua alma está limpa; o Serafim atravessou-me o coração com um dardo de fogo e asseverou: o teu coração está abrasado em amor, a tua alma é fortalecida.

Miríades de seres celestiais entoaram: O Senhor é clemente! O Senhor é clemente! O Senhor é clemente! Compassivo e cheio de misericórdia! Ouviu-se, então, a voz do Altíssimo que estrondeou: a quem enviarei? Quem fará a Minha vontade? quem Me será fiel?

Das profundezas subiu como nuvens de incenso um murmúrio de oração confiante: “falai, Senhor, que o vosso servo escuta”; “eis me aqui, ó Deus, para fazer a Vossa vontade”. Era uma Sentinela Vigilante que orava instantemente. Eu pensei, ainda é novo. Mas o Senhor replicou: não digas é novo porque irá onde Eu o enviar e dirá o que Eu mandar. O Vigilante ergueu o rosto resplandecente de humildade e rezou: “faça-se em mim segundo a Vossa Palavra”.

Então vi aproximar-se sobre as nuvens do Céu um homem crucificado com seis asas. Duas erguiam-se por cima da cabeça, duas voavam velozmente, duas cobriam a parte baixa do corpo. Os seus estigmas escarlates desfecharam cinco pedras lisas e brancas embebidas de águas vivas; cada uma se cravou nos pés, nas mãos e no lado do Vigilante. E uma voz trovejou imperando: pega no terço e nas pedras que te enviei; é este o teu armamento com que enfrentarás e derrotarás a Morte e o Maligno: “a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular”. O seixo no pé esquerdo te indicará as veredas a evitar, o do pé direito te mostrará os caminhos a percorrer; o seixo da mão esquerda te ensinará o que e quem importa corrigir, o da mão direita te instruirá o que e quem deves abençoar; o seixo que tens cravado no coração te incendiará de amor para que seja a caridade a dirigir todos os teus pensamentos e acções. Um livro sublime resplandecente de prata, ouro, rubis e esmeraldas desceu majestosamente, e a voz soprou: toma e come, rumina e assimila. Eis o Evangelho da Vida. Este é o livro da vida.

Uma imensidade de vozes fortes, semelhantes ao marulho de águas revoltas, clamou: Ámen. Não temas pequeno David, o colosso ruirá. Ámen. Aleluia. Grande é o nosso Deus e o Seu enlevo é crucificado, aleluia, escutai-O, Ele vive eternamente. Aleluia. Aleluia. Aleluia. Ámen. Aleluia. Glória, honra e louvor ao ressuscitado. Aleluia. Ámen. Aleluia.

O Vigilante, até aí extático, teve um desfalecimento e caiu pesadamente num sono profundo.

Aquando da celebração solene dos sacros Mistérios, na aurora seguinte, o Vigilante, sentado na cátedra, dirigindo-se à Assembleia Convocada, disse: o Dragão disforme, a Serpe antiga gerou a Violência Cruel, a besta feroz; seis oitenta e quatro é o seu número. Mas, não temas pequeno rebanho, pois aprouve ao nosso Pai dar-nos a Vida. Os fiéis, então, exultaram de alegria, soltaram gritos de contentamento, entoaram cânticos de júbilo: A Vida abundante vinha até eles trazendo a paz.

Depois, como um véu, desceu uma neblina que tudo encobriu. As lâmpadas reluzentes esmoreceram, as figuras, as cores e as formas esbateram-se. Por fim, só havia brancura diáfana. Foi-se, então, destacando um lajedo, depois paredes azulejadas, ao fundo avultava um enorme quadro antigo representando a matança dos inocentes ordenada por Herodes, do lado esquerdo uma outra pintura narrava a recusa das parteiras, tementes a Deus, em obedecer à ordem do faraó de matar os inocentes filhos dos hebreus, escravizados no Egipto; do lado direito sobressaía uma sólida secretária que impressionava pela sua sobriedade. Sentado divisava-se o Vigilante, austero, mas afável recebendo pessoas, uma a uma. Sussurrava palavras misteriosas. E era um rodopio de gente: políticos, directores de jornais ou de rádio, homens de cultura, académicos, cientistas, investigadores, médicos, enfermeiras, presbíteros, professores, Directores de colégios e Faculdades, reitores, responsáveis da catequese e de movimentos eclesiais, de associações e instituições; depois eram grupos, ora de sacerdotes ora de leigos, ora de religiosos, mais ou menos alargados, que falavam com alvoroço num entusiasmo crescente; entrava e saía gente numa grande azáfama, e os seus rostos diziam do regozijo que lhes ia na alma.

Das vozes que escutei lembro o seguinte: “Não se renuncie a nenhuma tentativa de eliminar o crime legalizado. Não há nenhuma razão para aquele tipo de mentalidade derrotista que considera que as leis que se opõem ao direito à vida - as que legalizam o aborto, a eutanásia, a esterilização e os métodos de planeamento familiar que se opõem à vida e à dignidade do matrimónio - são inevitáveis e até quase uma necessidade social. Pelo contrário, são um gérmen de corrupção da sociedade e dos seus fundamentos.” ... Importa formar bem o nosso povo católico, o resto virá por acréscimo. Vendo que as sondagens se alteram, muito político que por elas se governa mudará. ... Há três coisas fundamentais que vos quero dizer, por isso vos convidei: os senhores devem voltar à política, vós deveis entrar para um partido, importa que sejam legisladores, e a vós mais jovens convido-vos a que se inscrevam nesta e naquela juventude partidária. Não vos quero sozinhos mas em grupo, mesmo que os outros não saibam que formais uma aliança pela vida, será, aliás, mesmo melhor que por ora o ignorem, não tendes que dizer que sois conhecidos. Deus vos abençoe e vos guarde de todo o mal. Recorrei a mim e a quem eu vos indicar sempre que precisardes de conselho e conforto. ... O diálogo é essencial à missão da Igreja, mas isso não significa que abandonemos a própria identidade, que dêmos azo a ambiguidades ou a escândalo nem que coloquemos nestes púlpitos de hoje, que a tecnologia nos proporcionou, servidores e cultores da morte. Nos vossos meios anunciai explicitamente o Evangelho da Vida, debatei-o, explicai-o, mostrai-o.

Em seguida vi o Vigilante, sempre incansável, percorrendo todas as Paróquias, calcorreando os Seminários, os colégios e os movimentos. Pregava-se, rezava-se, meditava-se, celebrava-se, vivia-se o Evangelho da Vida. Tinham-se produzido diaporamas, vídeos, CD-ROMs, DVDs para ajudar à difusão e compreensão. Nisso tinham sido muito algumas Congregações religiosas. Não que se acrescentasse muito ao muito que já se fazia, mas em tudo o que já se realizava se punha explicitamente esse Evangelho da Vida, que não é outro senão o único Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois, muito humilde e confiante, visitou discretamente todas as Sentinelas das várias Igrejas que estão em Portugal.

Ouviu-se, então, um escarcéu, uma profusão de demónios em tumulto, numa algazarra incontinente, rodeando a Violência Cruel, a besta sanhuda, esbravejavam fúrias ferozes com esgares tremendos e aterradores contra o Vigilante. Mas este, imperturbável, seguia o seu caminho, desfiando as contas do terço e levando no alforge as cinco pedras. Prostrei-me, então, por terra implorando do Bom Senhor o Seu Espírito Santo para poder seguir, ainda que à distância, os passos do Sentinela vigilante.

A nuvem primeira reapareceu, agora alvacenta, transformando-se de novo em urnas onde uma multidão lançava papelinhos assinalados com um x, que tinham sido branqueados no sangue do Cordeiro. Das urnas saíam pombas brancas que esvoaçavam e pousavam majestosas nas cabeças dos representantes sentados na assembleia semi-circular; e eram pessoas sábias, prudentes, sensatas.

Do Céu surgiu, de novo, a Mãe, cujo nome é Ó, de semblante resplandecente, figura excelsa, aspeito deslumbrante. Um silêncio sagrado envolveu o hemiciclo enquanto os representantes se levantavam reverentemente. Depois houve uma ovação, uma aclamação jubilosa, e todos num grande afã frutificavam e aprovavam cousas louváveis; maravilhosas e admiráveis pela sua humanidade, esplêndidas e magníficas pela sua benignidade.

Apareceu, então, um extenso relvado, entremeado de múltiplos canteiros abundantemente floridos, sombreado de grossas árvores copadas e frondosas. E era muito para alegrar a vista a imensa quantidade de crianças chilreantes que corriam, jogavam e brincavam sob o olhar embevecido, cheio de carinho e ternura de suas mães.
De repente, tudo desapareceu e deparei com o correio-e (e-mail) que estava a escrever quando começaram as visões. Tentei desesperadamente encontrar algo que me permitisse descarregar (fazer o download), mas em vão. Tudo se tinha desvanecido do ecrã e se tinha imprimido no meu coração.

Nuno Serras Pereira
17. 03. 2004