Quando David se aprestava para o formidável combate com Golias quis o rei Saúl aparelhá-lo com armas idênticas às do gigante, emprestando-lhe para isso a sua espada, o seu escudo e demais apetrechos. Mas o miúdo e insignificante David vendo-se em bolandas logo repudiou todo esse arsenal, colocando por inteiro a sua confiança em Deus, significado, como referi noutro texto , nas cinco pedras lisas e brancas e nas águas correntes. Tentar derrotar o taludão com as mesmas armas, recorrendo aos mesmos meios, usando as mesmas tácticas, submetendo-se à mesma lógica, seria impossível. Ontem como hoje.
Que nós somos David e as forças da anti-cultura da morte são Golias disse-o São João Paulo II, no nº 100 da Encíclica o Evangelho da Vida. Por isso importa não relegar Deus para segundo plano colocando a nossa confiança nas nossas ideias, estratégias, recursos mediáticos, etc. – isto é, as armas humanas –, pois, como diz a Escritura noutro lugar, a nossa confiança não está nos carros e cavalos - os melhores meios de guerra daquele tempo -, mas no Nome do Senhor nosso Deus. E noutro lugar diz Jesus: “procurai antes de tudo o Reino dos Céus e a Sua justiça que o resto ser-vos-á dado em acréscimo”. Também St.ª Teresa de Ávila avisava: se pomos a nossa confiança nos meios humanos podem vir a faltar-nos os Divinos.
Com isto não quero dizer que não se recorra absolutamente aos modernos meios de marketing e demais instrumentos tecnológicos e outros, nem que não se faça uso, consoante os ambientes, de argumentações meramente racionais, mas sim que tenhamos a consciência de que são subsidiários, acessórios, secundários. Nada poderá substituir a oração e o sacrifício, em especial o jejum (para quem pode), nem o contacto pessoa a pessoa, a relação inter-subjectiva, nem a capilaridade no terreno, nem os meios pobres, nem os auxílios insignificantes; nem, para os Bispos, a caridade de percorrerem as paróquias pregando de viva voz o Evangelho da vida, e de mobilizarem os padres, como o fez, sem titubear, o Senhor Patriarca, e, ainda, de promoverem ou renovarem a consagração das suas Dioceses à Virgem Nossa Senhora, Mãe da Vida, Esposa do Espírito Vivificante.
Como em 1998, ano dedicado ao Espírito Santo, Deus, Jesus Cristo, no Seu Espírito, quer tornar-Se presente mediante a Sua Mãe e, através dela, conduzir as operações como o indicou claramente ao providenciar que a referendo fosse no dia 11 de Fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lurdes.
Nuno Serras Pereira
30. 11. 2006