1. A luxúria, ou concupiscência lasciva, sempre exerceu um domínio lúbrico sobre a humanidade presa do pecado inventando infinitos artifícios para a seduzir. O nosso tempo não escapa evidentemente a essa aparente fatalidade que prometendo felicidades produz, pelo contrário, infortúnios tamanhos e desgraças imensas. Mas podemos afirmar com segurança que a impudicícia nos dias hoje organizou-se de modo a invadir de forma sistemática e cientificamente programada as mentes e os costumes de todos, desde a mais tenra idade até à mais extremada velhice. Desde a Internet, segundo consta em estudos autorizados, passando pela televisão, pela publicidade, pelas revistas e jornais, pela legislação e pelos Estados, pelas novas formas de ocultismo e de neo-paganismo, por várias correntes da psicologia e da psiquiatria, pela medicina e pelas artes, pela literatura e pelo cinema, pela música e pelo lazer, até à capciosamente chamada educação sexual nas escolas tudo conjura contra o amor, a pureza e a inocência. Paralelamente a esta agressão brutal, embora se apresente com ares de gentileza, que se ramifica no tráfico de crianças para a pedofilia e de mulheres para a prostituição, desenvolve-se toda uma indústria de lucro desenfreado que prospera à volta de toda esta desfaçatez desde a contracepção até ao aborto e mesmo, embora à primeira vista possa parecer estranho, à eutanásia.
A gratificação sexual e emocional é o princípio motor e simultaneamente o objectivo que obsessivamente se procura. O prazer é para esta sarandalha devassa o critério único pelo qual aferir da conveniência e adequação dos comportamentos. Não há, para estes voluptuosos, uma hierarquia de valores objectivos mas uma predominância, a tender para a exclusividade, de um sentimentalismo romântico inteiramente subjectivista. Por isso, quando podem, desde a mais tenra idade vão inoculando metodicamente nas crianças que arrebataram, em nome do Estado, a seu pais, a idiotia perversa de que eles quando se sentirem preparados é que saberão a altura certa para a primeira vez em que fornicarão, convidando-os depois a confessarem-se - O diabo procura sempre imitar as coisas Divinas mas invertendo-as - publicamente não por arrependimento mas como estratégia de incitamento aos que ainda não o fizeram e para receberem as penitências e os bentinhos dos novos tempos – o preservativo, a pílula, o aborto, etc -, dos sexo-especialistas. Esta súcia incasta chorando lágrimas de crocodilo apresenta sempre como remédio ou solução para os problemas que ela própria provoca mais e mais e sempre cada vez mais “educação” sexual para crianças cada vez mais pequenas.
2. A corporeidade do homem, varão e mulher, revela claramente que é constitutivamente chamado à comunhão através da doação ou entrega verdadeira de si mesmo a quem o complementa. Para o homem se poder dar tem de se possuir, isto é, tem de ser senhor de si mesmo. Se assim não fora isso significaria que estaria inteiramente determinado pelos apetites e circunstâncias sem um intervalo que permitisse deliberação entre o estímulo e a resposta ao mesmo. Por outras palavras, não seria livre. O homem tem portanto de se exercitar no autodomínio, devendo educar-se para tal, para se poder auto-determinar, ou seja exercer a liberdade de viver de acordo com a verdade acerca do bem e do amor. A disposição, o conhecimento e o gozo para ver, entregar-se e fruir desse amor e bondade adquirem-se através das virtudes, que se alcançam através com a repetição ou o hábito na prática do bem.
Dar-se ao outro, cuja alteridade sexual testemunha a condição de possibilidade da doação, de corpo e alma ou, se quisermos, como pessoa corpórea é por sua própria natureza um dom irrevogável, exclusivo e total. Através da verdade do dom e do acolhimento recíproco é instituída uma unidade de pertença mútua, ou de vínculo, capaz de gerar, acolher e educar aqueles que o amor fecundo suscitou, os filhos. A relação duradoura, estável, que só a morte pode quebrar, entre o pai e a mãe constitui, por assim dizer, um outro útero indispensável para um amadurecimento e educação sãos e equilibrados dos filhos desse mesmo amor, que se alguma vez existiu é capaz de subsistir até ao fim.
Mas se isto é assim, como racionalmente não pode deixar de ser, isso então significa que há um critério objectivo para saber se se está preparado ou não para a primeira vez, a saber, se me comprometo com alguém do sexo oposto a uma entrega irrevogável, exclusiva, disposta acolher, sem fintas maranhosas, a capacidade de ser mãe ou pai daquele ou daquela a quem me uni. Os filhos não têm de ser desejados mas sim acolhidos.
O pai e a mãe ao gerarem e educarem os seus filhos tomam uma consciência de que eles próprios são também essencialmente filhos. Que só serão pais e avós porque foram e permanecem filhos. Não sei se já reflectimos suficientemente sobre isto: a rejeição dos filhos (a recusa em gerá-los ou depois de gerados) implica uma rejeição de si mesmo e também da união que se formou no casamento.
Está-se portanto preparado para a relação sexual somente quando se celebra o casamento com as disposições adequadas para que possa ser tal.
Quem a vida sexual quiser iniciar
terá de casar
acolhendo os filhos que Deus lhe quiser dar.
Nuno Serras Pereira
17. 10. 2008