1. A pena de morte é tanto mais inaceitável quanto as prisões hoje existentes garantem um segurança efectiva, de modo que o delinquente perigoso não põe em risco a vida de ninguém; deve-se visar a sua recuperação e não a sua aniquilação.
2. Na vigília de oração pela vida na Basílica da Estrêla, a 03.02.98, rezámos explicitamente por Karla Tucker que estava na iminência de ser ignobilmente executada à morte. Acompanhamos, assim, a indignação que percorreu o mundo inteiro.
Mas a verdade é que não topamos com indignação semelhante quando se trata do aborto. Ora a criança executada é sempre inocente enquanto que o condenado à morte é culpado de crimes hediondos. Aquela é executada arbitrariamente enquanto que este tem direito a julgamento e a advogado de defesa. Acresce que a desproporção entre os condenados à morte e os executados por aborto é gigantesca. Nos EUA entre 1976 e 1996 foram executadas pela pena de morte 358 pessoas enquanto que pelo aborto foram executados 32 milhões (números redondos) de bebés nascituros (B. Clowes, The Facts of Life, p.318). O que mais me espanta não é o silêncio dos de cá sobre a pena de morte lá, mas o silêncio tumular sobre o aborto lá e cá. Talvez a explicação se encontre no dito de Estaline: “uma morte é uma tragédia, mas um milhão de mortes é uma estatística”.
3. Os estudos realizados nos EUA entre 1980 e 1996 revelam que a percentagem de casos dramáticos no aborto é a seguinte: para salvar a vida ou por razões de saúde da mãe, 0.36%; violação e incesto, 0.08%; malformação do feto, 0.24%; total, 0.68%. A percentagem de abortos feitos para “manter o estilo de vida” é de 99.32%. (Idem, p.179).
4. Pouco podemos fazer, devido à distância, pelos condenados à morte nos EUA, mas muito podemos para evitar o aborto em Portugal.
Nuno Serras Pereira