quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Mãos Erguidas

1. O mistério e o apropósito do que aqui se começa a dizer somente mais adiante se descortinará:

As Sagradas Escrituras narram-nos que quando o Povo de Deus libertado da escravidão do Egipto se aproximava da Terra Prometida foi agredido pelos amalecitas que lhes queriam impedir a passagem. Josué é então encarregado de liderar o combate no terreno enquanto Moisés sobe à montanha orando de mãos erguidas pelo bom sucesso da batalha. Quando o Profeta tem as mãos alçadas o Povo de Deus leva de vencida os seus inimigos, porém, se exausto as deixa cair logo se troca a fortuna e os vitoriosos passam a derrotados. Para remediar este mal os companheiros de Moisés colocam dois enormes pedregulhos, um à sua direita e outro à sua esquerda, para que pudesse apoiar os braços e assim as suas mãos não desfalecessem, garantindo deste modo o triunfo que acabou por se verificar.

Esta passagem sempre foi vista como uma demonstração da eficácia e do poder da oração. Compreende-se, por isso, muito bem, por exemplo, que Santa Teresinha de Lisieux tenha sido proclamada co-padroeira universal das missões. Apesar de nunca ter saído da sua montanha, isto é do seu mosteiro, todas as suas orações e sacrifícios eram oferecidos em favor do combate espiritual pelo Reino de Deus que os missionários sustentavam nas terras longínquas onde o Evangelho ainda não tinha sido anunciado.

O nosso arguto P. António Vieira comentando esta passagem das Escrituras repara no que muitos não notaram. Começa por perguntar-se se Moisés ao descaírem-lhe as mãos e ao verificar a troca de sortes na batalha não rezaria mais instantemente e com maior premência, para logo concluir que não poderia deixar de ser desse modo. Mas se assim era como explicar que a oração não produzisse os efeitos costumados senão tão inversos e alheios ao que o Profeta suplicava? É que para Deus atender as nossas orações, continua o famoso pregador, não basta que rezemos com os lábios e com o coração é também indispensável fazê-lo com as mãos, isto é com as obras. Santo António de Lisboa chamava-lhe oração manual.

Para que haja verdadeiramente oração não basta vozear, bradar, sentir, recolher-se, comover-se, reflexionar, meditar é necessário praticar ou como se dizia em bom português obrar. Não é por acaso que Santa Teresa de Ávila no opúsculo Caminho de perfeição, que escreve a pedido de muitas das suas monjas que queriam aprender a orar, gasta uns dois terços do livro sem falar de oração mas das condições indispensáveis para a poder ter, a saber, caridade ou amor, desapego ou liberdade e humildade ou verdade. Importa pois pôr em prática aquilo em que se acredita, levando a vida à oração e a oração à vida. Como dizia São Paulo a Fé opera pela Caridade. A Fé manifesta-se, vive-se, exprime-se e fortifica-se nas obras de amor. Caso assim não fora, não passaria de um cadáver, conclui São Tiago.

2. Foi a consciência, ou se quisermos a vivência, de tudo isto que levou Leonor Castro a fundar o movimento “Mãos Erguidas”, juntamente com um grupo intitulado “Os Peregrinos” (nome tirado das muitas peregrinações que têm feito a Fátima) também por ela gerado. Esta comunidade “Mãos erguidas” foi concebida e nasceu para dar resposta ao gravíssimo problema do homicídio/aborto. Estas voluntárias, de terço na mão, erguem as mãos para amparar e ajudar as mães grávidas que se dirigem aos matadouros para abortarem seus filhos, procurando dissuadi-las de o fazerem, e oferecendo alternativas concretas que salvaguardem a unidade e o amor entra a mãe e o filho ou filha que traz no seu seio, incluindo o pai da criança; ou quando isso não se consegue encomendar à misericórdia de Deus os filhos brutalmente sacrificados e acompanhar as “cadáveres” (quem mata, mata-se) destroçadas e aguilhoadas em suas consciências pelo crime cometido. Estes cadáveres, dos progenitores, precisam de ser ressuscitados e só Jesus Cristo pode fazê-lo, por isso que os membros do “Mãos erguidas” O trazem, na boca, no coração e nas mãos.

Moisés empunhava nas suas a vara com que tinha operado prodígios no Egipto e que era figura da Cruz de Cristo. O logótipo desta organização é o desenho de duas mãos próximas nos punhos mas afastadas nas palmas, como um cálice, cujos dedos unidos estão erguidos ao Céu, de tal modo que fazem como que um berço para um bebé que ali se aconchega. É o Menino Jesus; são todos e cada um dos concebidos a quem Ele quis de certo modo unir-Se ao assumir a natureza humana, e por quem deu a vida para consigo os ter no Céu, por toda a eternidade.

Os pedregulhos postos ao lado de Moisés, digo eu, são os dois malfeitores que a todos nos representam e que Cristo quis ter sob os Seus braços Crucificados, Ele que se apoiou numa carne semelhante ao pecado, para que banhados pelo Seu sangue aqueles corações duros como penedos se deixassem transformar em corações de carne, como aconteceu com o bom ladrão que deixando-se penetrar desse amor logo se viu unido a Jesus, para toda a eternidade, mas que, pelo contrário, resvalou na obstinação couraçada do mau.

Como no antigo combate do povo de Deus o “Mãos erguidas” peleja com as setas do Amor Misericordioso e com a espada da Palavra de Deus contra os demónios que infestam aqueles lugares dominando os espíritos dos que lá “trabalham” ou melhor massacram e dos que lá são atraídos por promessas de resolução de problemas que não passam de miragens mentirosas e malignas.

3. Aquele presença amorosa e voluntária que já salvou um número significativo de bebés e poupou imenso sofrimento viu-se, no entanto, na necessidade de ter um “poiso” que permitisse um apoio quer para depósito de material, quer para abrigo temporário de alguma grávida em dificuldade, quer para conversas mais privadas e demoradas com pessoas que ao verem-se abordadas na rua se sentem constrangidas de ali conversar dos seu problemas, quer para ter um oratório e um lugar onde se possa atender em confissão, quer um espaço para mostrar algum vídeo ou DVD que esclareça as mães grávidas e os pais dos bebés concebidos ainda não nascidos. Todas estas necessidades e conveniências se apresentaram com simplicidade à Providência Divina.

Não se fez demorar na Sua resposta deparando-nos com um pequeno andar que dá mesmo para a frente da “clínica” do Arcos, acabadinho de ter obras de melhoramento que, não obstante a sua pobreza, o tornam um lugar apresentável e muito prestável. O prior de S. José, assim se chama a Paróquia daquela zona, o P. José Freire, formado em medicina, foi com grande contentamento rezar o terço do Rosário com a “Mãos erguidas” e abençoar este espaço que o Senhor concedeu a esta esplêndida comunidade.

Mas Deus para que possamos participar da Sua alegria e do Seu trabalho salvador quer associar e unir a Si o maior número possível de pessoas. Por isso, não quis arranjar o andar de graça, nem que as pessoas que constituem esta organização nadassem em dinheiro, mas pelo contrário quis que muitos pudessem participar da Sua generosidade contribuindo com a sua ajuda para o pagamento da renda e demais material necessário. Se alguém quiser saborear aquele dito das Escrituras que ensina que “há mais alegria no dar do que no receber” pode contactar a Leonor Castro: Telemóvel - 918 311 790 ou transferir para Nib Banco Satander Totta: 0018 0003 1856 5184 0204 1. Se não me engana a memória a proposta é a de contribuir com 10 euros por mês.

Nuno Serras Pereira
14. 09. 2008